Foto: Ronaldo Barreto/NETLUSA

O assunto é polêmico e rende algumas interpretações, apesar da decisão tomada não estar equivocada na origem. Mas o problema mora no detalhe, mais precisamente nos porquês. Por que a Portuguesa não pode jogar os clássicos como os demais, com torcida única? Por que ela não é considerada mais clássico? Por que a bilheteria seria fraca? Por que os demais clubes envolvidos nos jogos iriam se opor? Por quê?

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Talvez, a resposta cabal reflita o pedaço de cada explicação às perguntas acima, talvez, não também. Mas causa estranheza a Lusa ter um tratamento diferente dos demais, ainda que o clube esteja retornando à elite estadual depois de quase uma década vendo o campeonato pela televisão. 

A mim, a narrativa apresentada me salta aos olhos. Apesar de ser verídica – ou seja, ninguém contou mentira, inventou situações ou coisa que o valha –, essa história de que a torcida da Portuguesa não faz parte da classificação feita pelas autoridades policiais do Estado de São Paulo, como de risco, é um fato. Em outras palavras, temos um ponto. E não vamos aqui brigar com os fatos.


Contudo, o problema é o entendimento em cascata em direção às demais agremiações e ao ecossistema futebol. É aí que mora o perigo. Perigo de imagem, principalmente em um momento em que se determina o valor da marca “Portuguesa”. Há que se ter cuidado no ato de se passar um sentido de “café com leite”, de pouca relevância. 

A bem da verdade, há também quem defenda que um gesto desse porte irá aumentar a abrangência do time, uma vez que mostra que há pouca rejeição por parte dos demais em direção à Portuguesa. E baixa rejeição é algo relevante na hora do valuation de marca de qualquer coisa.

O que me chama a atenção, no entanto, é outro sinal. O comprometimento da entidade. Porque torcer de maneira ordeira, sem violência, é uma obrigação de todo torcedor. Caso contrário, o poder de polícia tem todas as ferramentas para entrar em campo e monitorar, prender e até iniciar o devido processo legal. É assim no mundo e é assim em São Paulo, por óbvio.

O que me faz levantar a sobrancelha é se posicionar nesse debate já de largada. Porque é absolutamente impossível assegurar e imaginar qualquer comportamento ordeiro de qualquer torcida, cujo desempenho em campo é a mola principal.  

Por exemplo: qual será a conduta da torcida rubro-verde se sucessivas goleadas ocorrerem diante dos grandes? Como será a reação dos lusos acaso o clube figure na parte debaixo da tabela e efetivamente brigue apenas para não cair no Estadual? E como se comportará a torcida em eventual rebaixamento? 

A ideia não é ser profeta do caos, mas levar em conta o copo “meio vazio” e ponderar que posições de largada geram comprometimento. E são difíceis de serem contornadas em momentos imediatamente futuros. E acredite, torcedor, em algum ponto ao longo desse campeonato, a Lusa precisará calibrar o discurso.

Vai precisar calibrar a narrativa, porque olhando agora pelo copo “meio cheio”, se der uma quartas-de-final entre Palmeiras e Portuguesa, como vamos lidar? Todos os entes, Polícia Militar, Federação Paulista de Futebol e clubes, como vamos tratar? Torcida única e Allianz Parque ou torcida mesclada, com carga de 10% à Lusa, e Allianz Parque? Ou o time de Mazola Junior terá a chance de propor Canindé e torcida mesclada, com carga mais bem distribuída? 

Em 1995, a Portuguesa viveu algo semelhante. Canindé dividido ao meio para um Portuguesa 2 x 1 São Paulo na última rodada da primeira fase. E ela foi disputar a semifinal num quadrangular, cujo jogo decisivo se deu diante do Corinthians no Pacaembu, com 40% do estádio rubro-verde. 

Nota do colunista: eu estava nesses jogos. 

Por isso, reitero. Nunca vi comportamento de largada trazer benefícios. Nunca vi. Mas fica a reflexão e os sinceros votos de um excelente 2023, torcida rubro-verde!

* Maurício Capela é jornalista há 28 anos. Comentarista, já trabalhou em diversos veículos, como RedeTV!, 105 FM, Tropical FM, Veja, Valor, Gazeta Mercantil.

7 comentários

  1. Nenhuma novidade, sempre, sempre foi assim…ao invés de promover o comparecimento da nossa torcida, incentivar o comparecimento, fazer um caldeirão no Canindé, não, pensam pequeno, preferem abrir os portões a torcida adversária, aí que o torcedor da Lusa não comparece mesmo ! Tomará que a polícia militar, não permita e coloque torcida única !

  2. O Presidente Castanheira está de Parabens, Não temos torcida Suficiente para comparecer ao Canindé. Portando libera para o visitante que conseguimos ganhar algum Din Din.

  3. Pelo menos acho que se fosse sem torcida adversária, teríamos um Canindé melhor e cheio só com nossa torcida, ele foi um BUNDÃO de ter aceito com a presença da torcida adversária!

    Alguém aqui acha que vai TODAS às famílias com suas esposas e filhos num clássico ??
    tá bom…TNC.

  4. Castanheira mais uma vez pensa pequeno…. o próximo passo é transferir o mando de campo para outra cidade quando jogar com um dos “grandes”… exatamente a mesma realidade de todos os times pequenos. Com isso alguém tem alguma dúvida que a torcida da Portuguesa não comparecerá nos clássicos? Já não existe motivo para comparecer pelos times que tem e ainda nos diminuem em relação aos outros… Realmente, triste… Pobre LUSA, quem te viu e quem ti vê…

  5. Tem que distribuir, no maximo, 20% dos lugares para a torcida adversaria, mesmo nos classicos. A torcida da Lusa tem que ocupar os outros 80% para utilizar o Caninde como um caldeirao contra os adversarios.

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