Maurício Capela: Não aprendemos nada!

Nem mesmo o estado atual das coisas, ou seja, um clube à beira da falência, sem divisão nacional, com baixíssima exposição de mídia, desestruturado têm sido capaz de aplacar a visceral e eterna briga política pelo poder; a Portuguesa não tem salvação

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Foto: Divulgação

Essa coluna não é uma carta endereçada a alguém. Também não é um recado a sicrano ou a beltrano. Essa coluna, na verdade, reúne um misto de sentimentos. Um emaranhado de tristeza, de incredulidade e da constatação de ausência em direção ao bem comum. Minha sincera percepção é – e raramente faço isso em meus textos –: a Portuguesa, infelizmente, não tem jeito!

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Porque vejamos. Se a situação de quase insolvência, há pelo menos duas décadas, não foi suficiente para sensibilizar quem está no dia a dia do clube, pergunto: o que precisaria acontecer para que houvesse o despertar?

Se estar fora de toda e qualquer competição nacional não trouxe um pingo de bom senso a quem faz política na agremiação, o que traria? Se conviver com tentativas de leilão em direção ao seu bem-maior, o estádio, não causou comoção, o que causaria? Se assistir suas conquistas em forma de taças serem retiradas de seu Museu Histórico não levantou as sobrancelhas, o que levantaria? Se ter sérias dificuldades em honrar salários de funcionários e jogadores ao longo de mais de duas décadas não foi capaz de sensibilizar a turma, o que sensibilizaria?

Enfim, a lista dos “se” é longa. Longuíssima. Mas eu não vejo mais como a Portuguesa poderá sair desse buraco no qual se meteu. Sinceramente, não vejo.

Nem adianta a conversa de que o áudio não é do meu grupo político ou que falou por conta própria ou qualquer outro blá blá blá. Nem vou me dar ao trabalho de avaliar essa comissão montada às pressas pelos poderes do clube para investigar a natureza do áudio, os motivos ou coisa que o valha, porque vai ser tudo bruma. Porque o que está em jogo não é o rumo da Portuguesa, mas sim a satisfação em sentar-se nas cadeiras de poder do clube.

Em outras palavras, sendo bem franco: não há projeto algum de reconstrução da Portuguesa. Não há projeto algum de desenvolvimento da agremiação. A Lusa é um barco à deriva. À espera do naufrágio. Ou seja do seu completo desaparecimento do universo do futebol.

Porque se houvesse, de fato, interesse em retomar seus bons momentos e ampliá-los, essa “brigalhada” política nem existiria. Afinal, um clube que deve mais de R$ 600 milhões na praça, que gera (chutando alto) algo como R$ 40 milhões de receita por ano, que ficou quase duas décadas sem revelar um jogador, que não participa de competição nacional, que perdeu relevância de exposição de mídia, que assistiu seu parque aquático e dependências ser depredado à luz do dia, que teve um entra e sai de presidentes a cada espirro, que tem seu patrimônio no fio da navalha de algum leilão, não pode estar imerso nesse embate. Sujeito à política.

Desculpem-me. Isso, não é sério. Não dá para levá-los a sério.

Oposição e situação, estamos às portas de um ano dos mais importantes de nossa história. 2025 deveria ser o ano do “push” para o “avião” decolar. E sobre o que falamos? Impeachment, peneira para montagem de elenco, protegermos uns aos outros. Minha Nossa Senhora de Fátima, que vergonha!

Ah, mas a Sociedade Anônima do Futebol (SAF) vai salvar os destinos do clube. Vai, com essa vontade em defender o bem-comum, vai sim…

Torcida Lusa, pode se sentar e se acomodar, porque a SAF será a pá de cal em direção às nossas origens, nosso pertencer e nosso significado de existir. A julgar pela vontade demonstrada ao longo das décadas em ter consciência sobre a “coisa pública Portuguesa”, o meu sentimento é do mais profundo desânimo e incredulidade.

Dito tudo isso, encerro aqui, ainda que tenha muito mais a ser comentado. Encerro, com o coração entristecido, porque o clube no qual nasci, cresci e passei muitos fins de semana de infância e adolescência, está no fim. E pior é ter a mais completa consciência que meu filho, se torcer pela Lusa, jamais conhecerá o time que eu conheci. Esse amor, pelo jeito, vai terminar comigo. Por quê? Porque quem ama e respeita algo, não se comporta desse jeito. Na Portuguesa de hoje, só há desamor! Que tristeza!

* Maurício Capela é jornalista há 28 anos. Comentarista, já trabalhou em diversos veículos, como RedeTV!, 105 FM, Tropical FM, Veja, Valor, Gazeta Mercantil.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do NETLUSA


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