Era perto das 8 da noite de uma quinta-feira, véspera de feriado da Proclamação da República no Brasil, e as luzes do Salão Nobre do Canindé, localizado na rua Azurita-Associação Portuguesa de Desportos, no Pari, bairro da zona norte paulistana, já davam a letra. Tal qual um farol, guiavam torcedores, crianças, jovens e senhores pelas também iluminadas alamedas da agremiação em direção ao local onde a história da Lusa seria escrita. Melhor. Reescrita.
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Veículos estacionados por toda parte, além das vagas demarcadas que se localizam na alameda da entrada principal do clube, demonstravam cabalmente que o dia 14 de novembro de 2024 entraria para a história da Lusa de um jeito ou de outro.
Eu, que peguei pela frente uma hora de congestionamento nas ruas de São Paulo (SP) – afinal, era véspera de feriado –, acabei por encontrar uma vaguinha mais adiante. Perto da fatídica Feira da Madrugada, que jamais funcionou nem de dia, nem de noite e tampouco na madrugada. Uma ode a essas duas décadas de incompetência, abandono e desalento na vida rubro-verde.
Ao me aproximar do portão ao lado do caracol de concreto armado, que dá acesso às numeradas do estádio Doutor Oswaldo Teixeira Duarte, onde uma faixa foi pendurada com os dizeres “Para tirar a nossa Lusa dessa gente” – uma distância não superior a 30 mentos da entrada do Salão Nobre –, logo notei que o clube respirava.
Dali, já consegui ouvir o burburinho do espaço da votação pela Sociedade Anônima do Futebol (SAF), ainda que fosse abafado pelos gritos da torcida de que “a Lusa nunca vai acabar. Nunca!”.
Senti que não iria mesmo. Porque o ar – sabe o ar? – não era mais pesado. Era leve. E ao me aproximar dos poucos degraus que separam a alameda principal, que além do Salão Nobre também leva ao tradicional restaurante Cais do Porto e à principal entrada do clube, notei que uma corda separava quem tinha a carteirinha de conselheiro e quem era adepto. Normal e natural. Afinal, ninguém ali queria confusão. Todos ansiavam por solução.
Entre tintins e tilintar de taças de vinho no Cais do Porto, a torcida se acomodou, envolta em suas bandeiras, camisolas e embalada pela canção de que “a nossa história é tão bonita”, enquanto de dois em dois, um a um, em grupos, os conselheiros, após subir três ou quatro degraus da entrada do Salão Nobre, mostravam sua carteirinha de conselheiro numa espécie de “check-point rubro-verde”.
Ao vencer a barreira do “cara-crachá”, ainda tinham outra pela frente. Dois lances de escada até se chegar, agora sim, à porta do Salão Nobre do clube. Sem pressa, porque ela não costuma levar a bom lugar, muitos ali exibiam vagar no passo, com o tronco inclinado discretamente à frente tão próprio à idade que o tempo gentilmente lhes concedeu. A idade avançada de alguns contrastava com a jovialidade de muitos, ali posicionados entre o Cais do Porto e a entrada do Salão Nobre.
Os cabelos brancos devidamente penteados, as calças de linho, as boinas e as malhas aqueciam o corpo de quem já tomou muita chuva no antigo estádio Ilha da Madeira, chamado assim por conta das arquibancadas de madeira em meio a várzea do Rio Tietê, ou no moderno Dr. Oswaldo Teixeira Duarte, que ganhou iluminação de primeira, cimento, tijolo na década de 70 do século passado das mãos de quem atravessou o Oceano Atlântico e desembarcou no Porto de Santos (SP) para depois se estabelecer em São Paulo (SP). A Lusa é um clube erguido por muitas mãos. Muitas.
Mas agora era hora de começar. Palavra solicitada. Trabalhos abertos. Perguntas feitas. Repostas dadas. Até que a assessoria de imprensa da Lusa informa aos jornalistas: “a votação vai começar em meia hora”.
Naqueles trinta minutos, o Pari passou a ser o centro do mundo. Nada e ninguém tirava a atenção dos cerca de mil adeptos que lá se plantaram defronte ao Salão Nobre.
Antes, porém, pé no freio. Alguém, com muita bagagem nessa vida, pediu a palavra. E externou que um contrato dessa natureza não é fácil de ser entendido por todos. Bingo.
Foi a senha para que uma recapitulação fosse feita, explicando que a Lusa não seria vendida, mas sim seu imóvel por meio de um termo chique “cessão onerosa de superfície”. No popular, ia ser “alugado” por 50 anos. Isso, mesmo. Meio século. E que dali sairia um moderno Canindé e um clube social novo em folha.
Antes, porém, foi devidamente explicado que a SAF assumiria o time masculino, feminino, categorias de base, camisa, distintivo, nome e tudo mais que fosse Portuguesa por 100 anos. Como manda a lei da SAFs.
Todos entenderam, foi perguntado. Todos assentiram. Podemos votar, levantou o ponto quem presidia a Assembleia. E lá fomos nós, todos nós, em grito uníssono de “Lusa” refundar a Portuguesa, agora em 14 de novembro de 2024.
Se vai dar certo, não vai, o tempo vai nos mostrar. Mas o fato é que a Portuguesa voltou. Em uma noite gelada, mas revigorante. Desejada e histórica. A Lusa agora é SAF. E que Nossa Senhora de Fátima nos abençoe.
* Maurício Capela é jornalista há 28 anos. Comentarista, já trabalhou em diversos veículos, como RedeTV!, 105 FM, Tropical FM, Veja, Valor, Gazeta Mercantil.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do NETLUSA
Estava na hora de mudar tem muitos contra o crescimento da lusa ela merece muito mais se Deus quiser tem que pedir para o padre Marcelo Rossi vir abençoar a lusa que depois que ele foi abençoar o Corinthians que foi o jogo entre os dois a portuguesa só caiu obrigado e desculpe-me
O Papa que adora futebol e que ama seu San Lorenzo deveria abençoar o clube do Canindé ! Com certeza , o Santo Padre faria isso com o maior prazer !!!
TEXTO MUITO BEM ESCRITO E FIEL ÀS EXPECTATIVAS DE TODOS NÓS. PARABÉNS
Os deuses do futebol estão a nosso favor. Amém
Não tem como negar , entramos em uma nova era e muita coisa antiquada para os moldes atuais , dentro do futebol atual em especial , precisam ser dissipadas , neste novo universo do clube ! Entendam como quiser !
o negócio FUTEBOL é movido por $$$$ e competência, no nosso caso sempre faltou um ou o outro, ( as vezes os 2 ) a partir de jan/25 já teremos uma idéia do que nos reserva o futuro, = Torcendo para dar tudo certo e que subamos um degrau por ano, rumo a série
A
Não tentar por tentar ! Tentar com objetivos traçados e ciente de como pode chegar onde pretende , em tempo mais curto possível , pois já perdemos tempo demais ! Agora é “dar volta ao mundo em quarenta dias” ,no mínimo ! Ou seja , oitenta dias demoraria muito !