Maurício Capela: Clássico, a polêmica palavra na vida da Lusa

Às portas de jogar o seu primeiro grande jogo no Paulistão 2023, diante do São Paulo, a Portuguesa precisa conviver com a recorrente pergunta se a partida pode ser considerada clássico e se a agremiação devia ter vendido ou não o mando de outro jogo considerado importante, contra o Corinthians

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Foto: Divulgação

A Portuguesa vai jogar o seu primeiro clássico no Campeonato Paulista de 2023. Sim, clássico e é um dos mais tradicionais do futebol paulista na próxima quinta-feira à noite. Portuguesa e São Paulo, São Paulo e Portuguesa são velhos conhecidos e já fizeram duas finais desse certame: a de 1985, que marcou a última vez em que a Lusa chegou à decisão dessa competição, e a de 1975. Ou seja, é jogo bom, é jogo grande.

+ Lusa tem o 7º ingresso mais caro do Paulistão na média por renda líquida

É claro que hoje a realidade rubro-verde é bem diferente. A Portuguesa luta para se manter na elite estadual, tem graves problemas financeiros e busca se arrumar para virar a sonhada Sociedade Anônima do Futebol (SAF), a nova panaceia contra todos os males administrativos da bola – e eu sempre desconfio de panaceias.  

Muito embora a gestão Antonio Carlos Castanheira esteja indo bem dentro e fora de campo, o fato é que os desafios são hercúleos para quem se aventura a sentar na cadeira presidencial da Lusa. A cobrança das arquibancadas é grande, o recurso financeiro é pequeno e o entendimento real das coisas quase inexiste.

A própria polêmica envolvendo o mando de campo diante do Corinthians, outro clássico, mostra bem essa problemática equação entre expectativa e realidade. E já me adianto, sou favorável ao que foi feito. Mas não assino embaixo da Nota Oficial, emitida pelo clube, principalmente no tocante a maneira como tratou o torcedor. Mesmo a torcida sendo contrária e hostil em determinado momento à transferência da partida, ela nunca pode ser menosprezada, porque o clube somente ficou em pé porque ela nunca o abandonou. E é preciso sublinhar categoricamente esse ponto.

Mas diante do que significa essa palavra na vida da Lusa, clássico, vale nos aprofundarmos um pouco mais nesse debate. De todos os clássicos que a Lusa vai jogar nesse Paulistão, o mais complexo em ser anfitrião é justamente esse diante do Corinthians, porque gerenciar a torcida do Timão no atual estágio em que o entorno do Canindé se encontra é quase impossível. 

Ok, ok, a reforma do gramado foi feita e ele está impecável. Sim, sim, ajustes foram executados nas numeradas e elas estão reabertas novamente. Ótimo, porque certamente seriam tomadas pela torcida do Corinthians, que ficaria encima dos adeptos rubro-verdes, que costumeiramente gostam de assistir os jogos do clube naquele canto do Estádio Doutor Oswaldo Teixeira Duarte. E a convivência, claro, seria ordeira, aprazível e cordata (contém ironia), só que não. Óbvio que seria complicado.

Mas hiatos à parte, segue aqui um relato pessoal. Eu fui à “cidade Canindé” no último sábado, conferir esse time da Lusa diante do RB Bragantino. Cheguei cedo e perambulei pelos arredores e pelas dependências do clube. E asseguro: ia dar um trabalho danado “controlar” a massa alvinegra ali.

Quer um exemplo? A escadaria gigantesca, que já subi tantas vezes, está fechada, quero dizer, o seu acesso. A antiga entrada da arquibancada defronte ao local onde as piscinas ficavam, e hoje dão lugar à Feira da Madrugada, estava fechada. A bem da verdade, havia ali uma bilheteria em funcionamento, o que sugere que num jogo grande o acesso seria usado. Mas isso é achismo. Puro achismo de minha parte.

Quanto ao estacionamento, cujo número de carros é limitado, viraria um caos por vários motivos. Primeiro, pela quantidade de vagas. E segundo, porque um dos acessos ficaria colado à entrada da Marginal Tietê, que certamente seria usada pelos visitantes adentrarem ao Canindé.  E, por fim, há obras em frente à entrada principal do complexo rubro-verde, onde os ônibus das equipes entram para acessar os vestiários. Apartamentos estão sendo erguidos ali.

Agora, sejamos razoáveis. Mesmo nos tempos áureos rubro-verdes, Portuguesa e Corinthians pouco jogavam no Canindé. Na esmagadora maioria das vezes, a peleja acontecia no velho e bom Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu, e algumas no Estádio Cícero Pompeu de Toledo, o Morumbi, palco do primeiro clássico rubro-verde no Paulistão 23.

Sinceramente, recordo-me de um Lusa e Timão no Canindé, em 1997 pelo Campeonato Paulista. Vitória rubro-verde por 3 a 1. Ah, teve também um 5 a 2 para o Corinthians no Canindé em 2000, válido pelo Paulistão.

Mas eram outros tempos. O clube e dependências organizados. Enfim, era uma outra realidade rubro-verde. Impossível comparar.

Para finalizar, vamos ao borderô. A antiga nomenclatura usada para definir a bilheteria é definitiva. Um milhão de reais limpo para a Lusa, que é o montante especulado que a Portuguesa recebeu ou vai receber de quem comprou o jogo, significa atualmente, tomando por base a melhor renda do clube até aqui, na derrota em casa para o Botafogo de Ribeirão Preto (SP) por 2 a 0, que foi de R$ 187, 4 mil, cinco jogos como mandante. Ou seja, difícil dizer “não, muito obrigado”, quando se precisa pagar funcionários, jogadores, comissão técnica, água, luz, internet, entre outros.

Trocando em miúdos, quero a Portuguesa de volta à Série A do Brasileiro e à Copa do Brasil. A quero no Paulistão da Série A para sempre. E torço para que ela volte a contratar jogadores de peso, que enverguem com maestria a camisa rubro-verde. Só que essa omelete não se faz sem ovos, no caso, sem recurso financeiro. E a não ser que surja informação nova, a transferência do jogo foi uma oportunidade de melhorar o caixa e olhar para um 2023, que até o momento se apresenta apenas com a Copa Paulista no segundo semestre, um campeonato que financeiramente está longe do adjetivo rentável.

* Maurício Capela é jornalista há 28 anos. Comentarista, já trabalhou em diversos veículos, como RedeTV!, 105 FM, Tropical FM, Veja, Valor, Gazeta Mercantil.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do NETLUSA


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Orlando Augusto de Oliveira
Orlando Augusto de Oliveira
1 ano atrás

Parabéns Maurício Capela pela Matéria e sua Visita aos arredores do Canindé. Realmente muita Coisa a ser feitas no entorno do Canindé Não tem estacionamento suficiente para Mandar um Jogo Grande no Canindé. Hoje mais do que Nunca a Diretoria tomou a decisão correta.Vamos Lusa confiamos em Voces.

RODOLFO VICENTE TEIXEIRA
RODOLFO VICENTE TEIXEIRA
1 ano atrás

Ótima matéria e grandes lembranças do clássico, foram poucos no Canindé, mesmo em tempos áureos.

Carlos Henrique
Carlos Henrique
1 ano atrás

Há poucos anos atrás poderia ser considerado clássico,a Lusa sempre despontava como um dos 5 melhores de São Paulo.Hoje,infelizmente,sairemos como um azarão,não temos time para encarar de igual para igual outro grande de São Paulo.

LUSITANO
LUSITANO
1 ano atrás

ACC é um traíra e traidor….menosprezou o torcedor luso e apequenou o clube!! O resto é conversa fiada…. tentativa de justificar o inaceitável!!!

Alexandre Mendes
Alexandre Mendes
1 ano atrás

O torcedor da Portuguesa que quer mudar o nome do clube, não é torcedor de verdade
O torcedor da Portuguesa que questiona se jogos contra Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo são ou não clássicos, não merece se intitular torcedor
O Canindé tem mais estrutura do que a Vila Belmiro, e lá os clássicos tem acontecido

LUSITANO
LUSITANO
1 ano atrás
Responder para  Alexandre Mendes

Perfeito!!! São “inimigos” enrustidos!!!!!!!

Augusto Godinho
Augusto Godinho
1 ano atrás

Comentário perfeito. Temos que ter os pés no chão para possibilitar a reconstrução da LUSA. Passo a passo. Com racionalidade. Claro, com a paixão das arquibancadas sempre. Acredito que nesse Paulistão, primeiramente é se manter. Mais do que a classificação para a outra fase, na minha opinião é permanecermos entre os 3 primeiros que não estão disputando competição nacional para irmos direto para a série D sem precisarmos sofrer na Copa Paulista. Vamos à luta LUSA!!!

Jose
Jose
1 ano atrás

VTNC Tô com saco cheio desse negócio de mando de campo, sempre fez isso e nunca tocaram no assunto. Será que tem “torcedor” fazendo jogo de alguma oposição? América X Cruzeiro vai ser em Brasilia, Boavista X Botafogo será em Brasilia, Nova Iguaçu X Vasco, em Brasilia. Nosso campo ainda com reforma é lixo demais perante grandes arenas, comporta bem jogo para 10 mil pessoas no máximo ser por 20 mil lá virá um caos. Acordem.

Alexandre Mendes
Alexandre Mendes
1 ano atrás

As Castanheretes começaram a perder a linha

Ricardo
Ricardo
1 ano atrás

Renda de 1 milhão e o time na Copa Paulista vai ser um lixo, o time não vai se classificar no Paulista, ou seja só tapa o sol com a peneira, é aquela história de vender alguma coisa que vc muito gosta achando que vai resolver o problema e depois de algum tempo vc vê que foi besteira vender pq vc ficou sem o bem e não resolveu nada sua vida… se esse $ resolvesse o problema da Portuguesa no ano aí seria aceitável, mas a verdade que o dinheiro vai entrar e as mazelas vão continuar iguais… espero que os pontos, em caso de derrota ou empate, não façam falta lá na frente, agora dizer que vamos perder em qualquer lugar; torcedor vc não é, acreditar na vitória da sua paixão é um dos pilares do amor que sentimos pelo nosso time do coração,LUSITANO ATÉ A MORTE…

Eduardo Martins
Eduardo Martins
1 ano atrás

A MOLECADA hoje não sabe oque é um clássico ! Não tem nada a ver com nível técnico das equipes, muito menos as condições atuais dos clubes ! Clássico é o jogo entre 2 times, que tem as camisas pesadas, que envergam varal , entre 2 times que tem muita história, é o tipo de jogo, que independente de qualquer coisa, qualquer resultado é normal…tanto a vitória do SP como da Lusa ! Vai pra cima Lusa !!!

Fernando Carvalho
Fernando Carvalho
1 ano atrás

Analise correta Mauricio. Jogo da Lusa contra o Corintians no Caninde hoje, so se fosse com torcida unica, a torcida da Portuguesa. Isto, so sera possivel, quando estivermos equilibrados fisica e financeiramente para podermos bancar este evento, o que espero seja num futuro bem proximo, para nao passarmos a vergonha de ter uma torcida adversaria superior a nossa em nossos dominios.

Eduardo Martins
Eduardo Martins
1 ano atrás

Vendeu o mando por covardia… não tem esse papo que precisamos do dinheiro ! Uma conta simples : 10 mil ingressos para o Corinthians a 120,00 + 5 mil para nossa torcida a 60,00, no mínimo 1,5 milhões! Desconta as despesas, meia entrada, sobra mais de 1 milhão…faltou respeito por nossa torcida, a Lusa só existe ainda, por causa do seu torcedor !!

HELDER QUEIROGA PEREIRA
HELDER QUEIROGA PEREIRA
1 ano atrás

Minha opinião , CORRETO
TAMBEM FUI A Indaiatuba, monte azul etc , etc ,,……mas também tenho consciência do nosso tamanho hoje !
Precisamos nos sustentar!

FERA DE GUARULHOS
FERA DE GUARULHOS
1 ano atrás

DE PENSAMENTO PEQUENO JÁ BASTAM OS DIRIGENTES DOS ÚLTIMOS 20 ANOS, INCLUSIVE O ATUAL…. QUEM SE CONFORMA COM A LUSA DESSE TAMANHO NUNCA TORCEU OU SOFREU PELAS CORES RUBRO-VERDES NOS CLÁSSICOS DE OUTRORA…

Rodrigo Antônio
Rodrigo Antônio
1 ano atrás

Não existe comparação de jogar contra o Corinthians no Pacaembu, no Morumbi ou no interior com Brasília. Mandar o jogo em Brasília é uma vergonha por si só. É vc abdicar totalmente da partida. Se o jogo fosse no Morumbi, tínhamos lá nossa torcida. Pequena, como é a muito tempo, mas estaria lá. Agora, quem vai pra Brasília? Quem tem condições para se deslocar a Brasília pra assistir a oitava rodada do campeonato Paulista? Mete a porra do jogo em Barueri, no Morumbi, na arena ronca e fuça, ou qualquer outra merda, mas não tira do torcedor o direito de assistir o time na elite depois de 8 anos.

j alex - atibaia
j alex - atibaia
1 ano atrás

Futebol é feito com $$$$$, e como o próximo jogo é contra o SP, lembro bem da Final de 85, não fui ao 1o. jogo, fomos operados por um juiz que depois eu vi varias vezes no Futsal, no 2o. fui ao Morumbi, perdemos de 2×1, e o Marangom meteu uma bola do meio campo que bateu no travessão. Mas o que importa é que depois eu fiquei sabendo que “aquele“ juiz do 1o. jogo ganhou um automóvel para nos operar, um mísero automóvel. – me mostraram até a NF –

MAURICIO FELIZARDO
MAURICIO FELIZARDO
1 ano atrás

Certinho sua análise Maurício, mesmo a portuguesa se estivesse em condições financeiras Boa esse jogo não poderia ser no Canindé. O Canindé está num local bom mas está acanhado para jogo desse porte. Só hj o Palmeiras cheio o estádio sozinho teve gente que demorou 15 minutos para entrar no estádio pq só uma entrada isso é ridículo. Aí querem gdes jogos no Canindé difícil né. Parabéns presidente fez o certo.

MAURICIO FELIZARDO
MAURICIO FELIZARDO
1 ano atrás

O presidente agiu corretamente o Canindé não tem condições de arcar comum jogo desse porte ainda mais Corinthians.

LUSITANO
LUSITANO
1 ano atrás
Responder para  MAURICIO FELIZARDO

Sempre teve condições. Não tem hoje porque a diretoria é incompetente…

Henrique Dos Santos Augusto
Henrique Dos Santos Augusto
1 ano atrás

Particularmente achei pertinente as colocações do Capela.
Se servir de exemplo, nas finais da série A2 com 13 ou 15 mil pessoas foi um sufoco parar e entrar no estádio.

Em 1982 assisti portuguesa e curintia no canindé com 32 mil pessoas. Achava épico
Como na década de 90 em que ganhamos vários clássicos em nosso campo e com boa presença da nossa torcida. Bons tempos.

Mas, falando especificamente desse jogo em Brasília, lembro do Brasileiro de 2013, onde também vendemos o mando e o jogo aconteceu em Cuiabá.
Enfiamos 4×0 neles, com 3 gols do Gilberto.
Que nos sirva de inspiração
Mãos à obra Paraízo. Esse vai ser o seu jogo.

Henrique Dos Santos Augusto
Henrique Dos Santos Augusto
1 ano atrás

Sobre ser um clássico ou não, acompanho a opinião do Muricy Ramalho que sempre diz;

CONTRA A LUSA SEMPRE FOI E SEMPRE SERÁ UM CLÁSSICO

José Cardoso Francisco
José Cardoso Francisco
1 ano atrás

MAURICIO, DESCULPA MAS QUEM VIDE DE PASSADO É MUSEU, HOJE TEMOS QUE RECONHECER QUE SOMOS UM TIME PEQUENO A BEIRA DE UMA SEGUNDA DIVISÃO, EM OUTROS TEMPOS ÉRAMOS O TERROR DOS GRANDES , GANHÁVAMOS OS CLÁSSICOS E PERDÍAMOS OS CAMPEONATOS PARA OS PEQUENOS DA ÉPOCA