Maurício Capela: Portuguesa x Juventus não é clássico

Confronto entre tradicionais agremiações de São Paulo (SP) está longe de ter esse status de grande rivalidade local ou regional

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Foto: Ronaldo Barreto/NETLUSA

O estádio Conde Rodolfo Crespi, localizado no coração de um dos bairros mais tradicionais da capital paulista, a Mooca, é um charme. A Rua Javari é uma volta ao tempo. É histórica. Afinal, foi ali que Pelé, para muitos, marcou o gol mais bonito de sua gigantesca e inigualável carreira. Nessa mesma batida segue o estádio Dr. Oswaldo Teixeira Duarte, o Canindé, e o estádio Cícero Pompeu de Toledo, o Morumbi. Mas o que especificamente essas arenas esportivas têm em comum? O ar de nostalgia, o sentimento raiz, a art-decó a serviço do esporte mais popular do planeta, entre outros pontos que nos remetem ao grandioso futebol brasileiro.

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Dito isso e sem spoiler, vamos ao ponto: Juventus e Portuguesa nunca foi, não é e nunca será um clássico do futebol paulista ou paulistano. Esse trololó só emergiu por conta do apequenamento da Portuguesa no cenário nacional do esporte brasileiro e daí abriu uma janela para se fabricar uma rivalidade que jamais existiu. Jamais.

Olhando de uma confortável cadeira de 2024, a tentação em se criar rivalidades e disputas parece convidativa. Vivemos a era do storytelling, da contação de histórias, mas não é legal imaginar algo que nunca existiu. Nunca.

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Nunca, porque invariavelmente a diferença técnica, de cobertura de mídia, de poder de contratação de jogadores e treinadores, de patrocínio, de estrutura, de capacidade de estádio, de tudo era abissal entre Lusa e Juventus. Desculpe, mas era.

Hoje, algo ainda se mantém nessa esteira. Se a diferença técnica e de cobertura de mídia atualmente não estão tão distantes, em termos de estrutura e capacidade de estádio o abismo ainda é real. E isso ainda se desdobra em direção ao poderio na hora de contratar atletas e treinadores. Há clara vantagem em direção à equipe rubro-verde. É isso.

Ah, mas se for assim, contra Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos também não é mais clássico? Se você olhar com as lentes de 2022, encontrarás alguns subsídios que vão lhe apontar em direção ao “sim”. Agora, se você olhar com as lentes de 2024, a coisa já começou a se movimentar na direção do que sempre foi: ou seja, clássico.

Sim, porque decidiram títulos. Sim, porque uns tiravam jogadores dos outros. Sim, porque se equivaliam em discussões sobre arbitragens, formatos de campeonato e por aí… E talvez sim, talvez não, porque a partir dos anos 90 do século passado, de fato, a bilheteria da Lusa encolheu e a dos demais dispararam em qualquer competição que se observe. Eis o ponto de inflexão.

São fatos difíceis de serem contestados. Porque há dados e análises robustas. A não ser pela má vontade ou comportamentos tendenciosos. Mas aí, cabe a cada um.

Agora, isso não quer dizer que o jogo não seja charmoso. O é. Não quer dizer que a partida não seja um sopro de raiz em um futebol tão gourmetizado. Sim, o é. Mas sem forçar a mão.

Portanto, com todo respeito ao Juventus, que merece. A peleja do fim de semana é um sopro de um futebol que já não existe mais: os dos sem marketing.

Em tempo, a Lusa não é favorita nessa Copa Paulista versão 2024. Precisará se provar a cada jogo dentro e fora de campo. Mas há um risco. Qual?

Às portas da Sociedade Anônima de Futebol (SAF), uma campanha vergonhosa não ajudará nas negociações em direção aos parceiros. Vai passar a imagem de que a Lusa precisa mais da SAF do que realmente necessita. E uma campanha extraordinária, acrescerá pouco verniz.

Então, do que vale essa Copa Paulista à Lusa? Vale para firmar Alan Dotti como treinador. Vale para afirmar talentos como jogadores possíveis de renderem bons frutos no gramado. E vale para a nova diretoria de futebol, que precisará ter exímio planejamento para 2025. Porque no ano que vem a missão já está dada: ficar na A-1 do Paulista e subir para Série C.

É isso que está à mesa. Porque clássico mesmo ou jogo importante a valer só no ano que vem.

* Maurício Capela é jornalista há 28 anos. Comentarista, já trabalhou em diversos veículos, como RedeTV!, 105 FM, Tropical FM, Veja, Valor, Gazeta Mercantil.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do NETLUSA


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