Gabriel Fernandes: Os milagres do Thomazella

O time entrou em campo e a torcida da Portuguesa viu novidades na escalação. Richard e Naldo, reservas durante o campeonato, ganharam a oportunidade de disputar o decisivo jogo da última rodada. Mais do que os nomes, os dois representaram também uma mudança tática no time de Gilson Kleina. Pontas de ofício, Gustavo Ramos e Richard formaram uma dupla de ataque para tentar ter mais volume no campo ofensivo. Enquanto Naldo tinha o objetivo de dar mais solidez à pior defesa do campeonato.

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Outra novidade foi ver Thomazella com a faixa de capitão. Com a ausência de Pará, suspenso pelo terceiro cartão amarelo, coube ao goleiro a missão de carregar a faixa de capitão da Lusa. Papel que, aliás, lhe caiu muito bem.

Dentro de todas as limitações que a gente já conhece, a mudança de Kleina pareceu surtir algum efeito e vimos o Richard desperdiçar oportunidades, numa Lusa que tinha mais volume de jogo do que o Mirassol.

Mas, como também já sabemos, a vida do torcedor da Portuguesa neste Paulistão não é nada fácil. E o Camilo, de cabeça, abriu o placar para o Mirassol.

Neste momento, a desilusão tomou conta e o rebaixamento parecia só questão de tempo. Afinal, este time não havia conseguido virar um resultado sequer em 11 rodadas. E olha que saiu atrás várias vezes.

E não é que o roteiro mudou? Logo nos minutos seguintes, Yuri, volante do Mirassol, tentou sair jogando de calcanhar e entregou a bola nos pés de Gustavo Ramos. Ele acionou o Richard que, desta vez, não perdoou e finalizou forte, no canto do Muralha. Era o gol da esperança.

Para aumentar essa esperança, logo no começo do segundo tempo veio a primeira virada no campeonato. Fabiano acertou um bom cruzamento e João Victor completou para o gol. O primeiro dele no Paulistão. Lusa 2 x 1 Mirassol.

Então, tudo parecia dar certo, a permanência estava próxima. Os jogos de Ferroviária e São Bento acabaram antes. No relógio, a Lusa tinha apenas mais um minuto para segurar o Mirassol. E foi justamente naquele único minuto em que a Portuguesa dependia só dela que tudo poderia vir abaixo. Poderia, não fosse o Thomazella executar dois milagres em sequência e garantir a Portuguesa na Série A-1.

E olha, quem sou eu para discordar de Carlos Eduardo Thomazella, que escolheu a última das defesas como a mais difícil. Mas ainda estou pensando naquela primeira. A cabeçada de Guilherme Biro, que primeiro pega na trave, tinha como destino o gol da Portuguesa. Eis que surge o corpo de Thomazella, como um muro, e impede o gol certo. Reparem nas reações dos jogadores em volta. O Silvinho, atacante do Mirassol, custa a entender o que aconteceu. Uma defesa épica.

Não à toa, até o São Marcos, aquele mesmo do penta, parabenizou Thomazella, como se desse as boas vindas ao panteão dos “Goleiros Santos”.

Claro, essas defesas vão ficar na memória e no imaginário de todo o torcedor. Mas, ao contrário da Portuguesa, Thomazella fez um ótimo Campeonato Paulista. Garantiu um ponto importante contra o Corinthians. Sem contar aquele crucial contra o Ituano, quando fez mais duas dessas defesas épicas, que sugiro a vocês assistirem novamente.

Mesmo com a pior defesa, ao lado de Inter de Limeira, Ferroviária e Ituano, a Lusa tem um dos melhores goleiros do campeonato. E, desta vez, foi o suficiente. Vale lembrar que não será sempre assim.

Por enquanto, fica a eterna gratidão ao goleiro. Foi uma tarde inesquecível para a torcida da Lusa. E também para o pai do Gustavinho, que vai cavando o seu lugar na história e no coração dessa tão apaixonada torcida, que já se acostumou a gritar por aí: “É, Thomazella!”.

* Gabriel Fernandes, ou GabiLusa, como apelidou o Professor Antônio Quintal, tem 26 anos e nasceu no ano do vice-campeonato brasileiro, em 96. É jornalista formado pelo Mackenzie e apaixonado por futebol e pela Portuguesa. Agora também tem um cantinho aqui no NETLUSA para dar uns pitacos e conversar com a torcida que ele aprendeu a amar desde muito cedo.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do NETLUSA