Tiago Cabral: Viver é melhor do que sonhar!

Em noite épica, a Portuguesa exorcizou seus fantasmas e voltou a desfrutar a sensação de estar viva

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Foto: Divulgação/Portuguesa

A Portuguesa do século 21 é um clube totalmente oposto ao que sempre foi. Deixou de ser aquele clube chato, que incomodava os grandes, que sempre chegava aos campeonatos e morria na praia, para ser mais um clube tradicional que amarga o ostracismo, resultado das sucessivas administrações maléficas que dilapidaram nosso patrimônio, nossa história e nossa reputação.

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Vivemos os últimos 22 anos de sobreviver. Todo jogo e todo campeonato são uma incansável odisseia para nos mantermos de pé. As escassas vitórias não passam de mera obrigação para o clube continuar respirando por aparelhos. As derrotas constantes possuem um efeito cada vez mais devastador. O torcedor na arquibancada passou da indignação e do inconformismo, para uma bucólica tristeza.

Nessa jornada de caos, que aparecemos na grande imprensa apenas quando somos novamente rebaixados ou nosso patrimônio é judicializado; São raros os momentos que respiramos alegres e felizes. De 2002 para cá, apenas os anos de 2007 e 2011 são dignos da nossa grandeza. O restante do tempo é praticamente uma mescla de vexames, vergonhas e escândalos.

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Muitos de nós vamos ao Canindé pela teimosia, buscamos, lá, algo que nem sabemos o que é. Parece até uma obrigação ir, afinal, se não estivermos lá, quem estará? No fundo, lá no nosso coração, a Lusa é um lugar de afeto, um pedaço da nossa história que jamais poderemos omitir. Nunca será possível contar a nossa história, sem mencionar aquilo que mais amamos.

Faço parte da última geração que teve a oportunidade de ver uma Lusa gigante. Daquele time que ia para as grandes partidas no Maracanã, Mineirão e Morumbi. Que rodava os maiores e melhores estádios do Brasil. Um time que cedia jogadores para seleção. Um clube que a base revelava com certa regularidade inúmeros novos talentos para o futebol.

Porém, grande parte da minha vida adulta assistiu a um outro lado da Portuguesa, um lado desconhecido que chegou a um poço sem fim. Dentro dessas intermináveis tragédias, eu e grande parte dos torcedores, inclusive o próprio clube, nos esquecemos do tamanho que a Lusa possui. O futebol e o mundo não foram construídos de 2000 para cá.

Apesar desse esquecimento, de quem nós realmente somos, do nosso tamanho e da importância do nosso clube para o futebol, o que de fato ainda nos faz ir a todo jogo no Canindé, o que nos faz acompanhar esse clube em qualquer partida, é o nosso sonho de reviver as grandes histórias, de estar vivo e de ‘ter’ um clube para torcer. A torcida precisa apenas de um time que tenha alma, que jogue o jogo, que entre em campo ciente da importância daqueles 90 minutos.

No último sábado, mais uma vez, quis o destino que o Mirassol cruzasse o nosso caminho em outra ‘decisão’. Todos os nossos desejos e sonhos se materializaram naqueles 90 minutos. Uma equipe com alma, uma equipe com entrega, um time que jogou pela nossa história, pela nossa torcida e pela nossa sobrevivência, empurrado pelos gritos de mais de 3 mil vozes cansadas do ostracismo e do sofrimento interminável.

Após o apito final, o grito forte (mais alto do que na hora do gol) que ecoou pelas arquibancadas, foi um sinal de vida de um gigante adormecido que jamais acabará. Grito esse dado por nós e por tantos outros (familiares, amigos e conhecidos) que já não estão aqui, mas que foram importantes na construção do nosso amor.

Os últimos dias foram de imenso prazer e euforia. Os sentimentos e as expectativas despertadas não se limitam ao jogo com o Mirassol. São apenas um passaporte para reviver grandes momentos. Que venha o Santos! Que venha mais um capítulo lindo na nossa história tão bonita e centenária!

Enquanto houver amor e vontade viver, saibam: A LUSA NÃO VAI ACABAR, NUNCA!

* Tiago Cabral, 33 anos, privilegiado por ter visto a última era de ouro da Portuguesa. Súdito de Capitão, cover fracassado de Clemer e o maior anticandinho do Pari. Corneteiro profissional com análises totalmente ácidas quando se trata da Lusa.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do NETLUSA


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