Maurício Capela: O Milagre de Mirassol

Uma sucessão de boas decisões desde a escalação com três zagueiros, passando por um meio de campo aprumado e um ataque brigador deram à Portuguesa a chance de continuar se reconstruindo em 2023, muito embora o nome do jogo seja um só: Thomazella

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Foto: Divulgação/Portuguesa

Escrever essa coluna é como terminar um roteiro de um filme de Drama indicado ao Oscar. Tivemos de tudo nesse enredo. Momentos de euforia, da mais pura raiva, tivemos culpados, mocinhos, vilões, trapalhadas que nos arrancaram risos e situações do mais puro desespero, que, em boa medida, nos guiou ao completo desprendimento e aceitação de que A2 era o nosso caminho no próximo ano. Mas não. O nosso lugar na primeira do Paulista foi preservado e mantido, com muito suor, lágrimas e dedicação.

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Muito embora tenhamos cometido erros primários, hoje não é dia de apontar o dedo para nada e ninguém. Hoje é dia de alegria, de congraçamento, de sonhar com tempos melhores pela frente. E eles virão, porque ninguém que resiste ao que resistimos pode ter medo do futuro que se avizinha. Tenhamos, portanto, esperança.

Mas antes de seguir essa coluna, eu preciso dizer, muito obrigado aos jogadores. Na última vez que juntei frases e ideias, transformando-as em coluna, escrevi uma carta aberta a vocês. Nem desejo saber se foi lida ou não. Isso é menor e nada relevante. O protagonismo é de vocês, é da comissão técnica e torcida, porque o que vocês fizeram em Mirassol foi digno de um milagre. E milagres somente acontecem pela força de vontade combinada à fé. É preciso sonhar e crer. E nós sonhamos e cremos ontem.

Contudo, é preciso frisar sem falsa modéstia: é justamente jogos como o desse domingo que carimbam ainda mais a grandeza desse time. Porque desde ontem, Mirassol passou a fazer companhia a Recife em termos de milagres e datas históricas. Da mesma forma que nos livramos da Série C em 2007 em um momento que imaginávamos ser crucial para a Portuguesa em Recife, batendo o Sport por 3 a 2, ontem, nos mantivemos vivos para esse projeto de reconstrução. Como escrevi na carta aos atletas, a Portuguesa nos tem e enquanto ela nos tiver, ela nunca, nunca vai acabar. Ponto final.

Mas é claro que a sensação foi de que o acaso contribuiu bastante para a permanência na A1. Mas não, não foi só um golpe de sorte. Porque crer nisso significaria tirar o brilho da entrega de ontem. A mim, o principal foi a mudança de postura, de esquema tático, de entrega. Foi uma sequência de boas decisões que permitiram ao acaso vestir a camisa 10 e nos ajudar a permanecer na primeira divisão.

A primeira delas foi a mudança de esquema de jogo. Atuar com três zagueiros foi determinante para estabilizar a marcação. Depois, a segurança no meio de campo, com Marzagão, Tauã e Daniel Costa, dois correndo por um, cujo passe é essencial em um time competitivo em qualquer divisão de qualquer campeonato. À frente, Richard e Gustavo Ramos, com excelente recomposição. E João Victor, um dos poucos dessa leva de contratações que deveria permanecer na equipe para 2023.

Em outras palavras, deve-se dizer. Ponto para Gilson Kleina, que não teve medo de promover alterações no último jogo, que notou que não dava para seguir assim e que, em boa medida, colocou seu pescoço à prova. Isso, na minha visão, é ser treinador. Buscar e encontrar soluções com o que há à mão, porque treinar o Flamengo, com essa constelação, convenhamos, é bem mais confortável.

Agora, para finalizar, porque hoje é dia de sorriso no rosto, é preciso sublinhar a atuação de Thomazella. Firme, seguro, ciente e cioso de seu papel, o camisa 1 rubro-verde entrou definitivamente para a história do clube. Ele não foi só o melhor jogador em campo, com pelo menos três defesas na segunda etapa que foram responsáveis diretamente pela alegria dessa segunda-feira. Ele materializou no gramado o desejo de milhões de torcedores. Thomazella, a você, um especial muito obrigado!

* Maurício Capela é jornalista há 28 anos. Comentarista, já trabalhou em diversos veículos, como RedeTV!, 105 FM, Tropical FM, Veja, Valor, Gazeta Mercantil.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do NETLUSA


9 comentários

    • Sim ,mas as situaçoes foram muito diferentes. Em 2006 o time reagiu apos a chegada do Benazzi e chegou na Ultima rodada dependendo apenas de si. Agora não houve reação o time capengou o campeonato inteiro e salvou-se por resultados alheios, se o RB ganhasse de 1X0, hoje estariamos chorando o rebaixamento.

  1. Belo texto do Amigo Capela. O Mirassol ontem não afrouxou, tentou nos levar à série A2 de todas as formas, como no passado. Mas se esqueceram de uma coisa importante…essa camisa rubro verde tem mais de 100 anos de história e tradição. Sem pretensão alguma…almejavam ser nosso algozes mais uma vezes. Como diz o ditado…um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Tenho certeza que essa permanência será um divisor de água para a nossa sequência em alcançar nossos objetivos. Qto ao Castanheira…não é porque o time se safou. Mas me parece não conhecer o mercado da bola e acreditou piamente no TC que na minha opinião foi o carrasco. Isento o presidente da culpa por ter pego a portuguesa falida e ter nos devolvido a visibilidade. E se ontem aconteceu um milagre é porque Deus e nossa Senhora de Fátima reconheceram os esforços de alguém ou rogaram por nos castigados torcedores da Associação Portuguesa de Desportos. Primeiro semestre Salvo..graças à Deus.

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