Cobertor curto. Talvez essa seja a melhor definição da Portuguesa para esse segundo semestre de 2024. Disputando uma competição deficitária e com pouca visibilidade, a Lusa tem feito mágica para manter um time minimamente competitivo e, claro, honrar seus compromissos junto a plantel, clube associativo, entre outros.
Por esse motivo, leio com surpresa zero o empréstimo de quatro jogadores para equipes espalhadas pelo País e do mundo. Normal, natural e até esperado. O que me levantou positivamente a sobrancelha foi o destino desses atletas. A saber:
- Talles para o Avaí (líder da Série B);
- Matheus Maycon para o Sub-20 do Ceará;
- Dênis para o Internacional;
- Fabrício para o Toluca do México.
De todas as transações, a ida de Dênis para o Inter é a que chama mais a atenção. Primeiro, porque é um jovem de grande potencial. Depois, porque sai de um time sem divisão nacional – D somente em 2025 – para A. E isso não é comum. Só acontece porque é a Portuguesa, cujo peso da camisa e lastro de revelações falam por si.
É isso que a mim se traduz em pontos positivos. Penso que a base de qualquer clube não deveria ser formatada para ganhar títulos. Se eles aparecem, tanto melhor; se não, não há catástrofe, desde que jogadores estejam sendo revelados. É claro que uma coisa acaba por puxar a outra, mas é importante fazer essa desvinculação. Importante.
O fato é que desde que reativou o Sub-20, a Lusa deu um recado claro: a base ia voltar, com tudo aquilo que significa essa categoria na Portuguesa. Com os retornos do Sub-15 e Sub-17, a mensagem é direta: voltamos.
Tudo bem, tudo bem que as categorias de base, no geral, não estão em seu melhor momento. Mas nesse estágio é preciso olhar sob o prisma de maratona e não de 100 metros rasos. É olhar dez anos à frente, porque uma hora a Lusa vai acertar a mão. E daí é um pulo para o encaminhamento de um grande negócio e, claro, de um extraordinário alívio nas finanças.
Mas sejamos claros: a Copa Paulista versão 2024 para a Lusa significa rodagem, laboratório e observações importantes para tomada de decisão.
Alan Dotti poderá se firmar numa espécie de comissão técnica permanente do clube no melhor estilo Milton Cruz no São Paulo, por exemplo. Portuga, que mostra boa qualidade técnica, pode ser incorporado em desafios maiores. Pascoal, nosso arqueiro, como um atleta que vai lutar pela condição de titular. E assim por diante…
Porque convenhamos se Dênis for bem no Inter não voltará mais. Talles, idem. São jogadores de boa qualidade técnica e que tem boas chances de se firmarem e renderem recursos financeiros ao clube.
Em uma agremiação em reconstrução é muito difícil aliar ganho técnico e financeiro simultaneamente. Se prioriza o ganho técnico no gramado, ofertas podem ser perdidas e dinheiro é algo que a Lusa não pode virar a cara. Se prioriza o ganho financeiro, perde-se em campo. A vida é dura nesse momento.
Portanto, saber fazer escolhas e aguentar as consequências são virtudes. O fato, em meio a isso tudo, é que a Lusa voltou ao tabuleiro do mercado da bola. E isso é algo extraordinário.
Em tempo, esse movimento reforça o meu sempre ponto sobre a Sociedade Anônima do Futebol (SAF) e Portuguesa. Tenham calma, ainda que seja natural o rush diante de um caixa muitas vezes comprometido – quem paga boletos sabe bem. Mas ainda assim, reitero: não rifem a Lusa. Apostem no planejamento de longo prazo; ele já se mostrou eficiente. Demora, mas é funcional.
* Maurício Capela é jornalista há 28 anos. Comentarista, já trabalhou em diversos veículos, como RedeTV!, 105 FM, Tropical FM, Veja, Valor, Gazeta Mercantil.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do NETLUSA