Marcos Teixeira: São Diogo

Na noite em que faltou treinador e os veteranos quase ruíram, sobrou a sobrenatural atuação para expiar os pecados portugueses

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Foto: Divulgação/Federação Portuguesa de Futebol

Portugal orgulha-se de ser o país mais católico do mundo. Ao menos quando miúdo ouvi muitas vezes esta ideia. Os tempos podem ser outros, mas não haverá um português, seja em Portugal, na Alemanha ou em algures no mundo que não tenha acendido uma vela para São Diogo.

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Mas nem era preciso tanto sofrimento. Se existiu um acerto da parte de Roberto Martinez, este foi a escalação. Depois das mal sucedidas e mal explicadas experiências com a Geórgia, Portugal foi a Frankfurt com o sistema com dois zagueiros, tendo Nuno Mendes e João Cancelo nas laterais; os incansáveis João Palhinha e Vitinha como trincos, tendo este a missão de ser amálgama para toda a equipa. Bruno Fernandes mais próximo da área e Bernardo Silva dando largura à direita para Cristiano Ronaldo e Rafael Leão, este sempre aberto do outro lado, completarem o onze inicial.

Sem surpresas, pois.

Surpreendente, de fato, foi o espaço que Portugal encontrou no início acutilante, na melhor entrada da turma de Martinez nesta Eurocopa. Há quem diga que Portugal andava pendido à esquerda, mas as principais jogadas sempre iam ter pelos lados de Rafael Leão, que deu as caras na competição, e Nuno Mendes, um verdadeiro tormento. E o placar só não foi movimentado porque sempre faltava algo, fossem pernas para Bernardo Silva alcançar o passe de Bruno Fernandes ou Cristiano fazer jus ao bom nome de goleador que tem.

Os cinquenta e poucos jogos que suas pernas levam na temporada parecem pesar, a ponto de lhe tirar explosão e tempo de bola, justamente as suas principais armas. Não tem sido raras as vezes em que o camisa 7 quase chega à bola. Foi assim contra a Geórgia, foi assim no Qatar, há um ano e meio.

Ainda não ter levado o pão à sopa tem trazido à tona o pior de Cristiano Ronaldo: a ansiedade. Contra a Eslovênia, aquele atacante associativo deu lugar à versão atabalhoada e mesquinha, que invariavelmente tomará a pior decisão, como na cobrança de falta praticamente sem ângulo nem cabimento, em que tentou mandar direto para o gol, como se lá estivesse um qualquer.

Como Portugal não marcou, a intensidade caiu e a Eslovênia conseguiu respirar um bocado e vez ou outra até criou problemas, ora com Sesko – perigoso avançado de 21 anos, que venceu alguns duelos com Pepe, o monumental defensor com quase o dobro da sua idade -, ora com Sporar, de quem a bola foi tirada uma par de vezes por um Nuno Mendes insinuante a apoiar e diligente a defender.

A segunda metade da primeira etapa teve alguma calmaria, quebrada somente quando João Palhinha, novamente soberbo, acertou o poste de Oblak pouco antes do final da primeira parte. Não faltava muito para acertar para poder encaminhar uma classificação relativamente tranquila.

Mas o segundo tempo teve duas partes distintas: uma em que Portugal teve inventividade e a que não teve nada a partir dos 20 minutos, quando da inexplicável dupla mudança promovida por Roberto Martinez, que tirou seus dois melhores homens, Vitinha e Rafael Leão, e colocou Diogo Jota e Francisco Conceição. Bruno Fernandes foi recuado para terrenos mais baixos, quando o ideal seria aproximá-lo de Bernardo Silva; Leão, um verdadeiro tormento, um felino livre e faminto na Savana, deu lugar para Chico Conceição, numa troca de imposição pelo drible que não resultou.

O tempo foi passando, o jogo ficou partido e os eslovenos só não conseguiram algo ainda no tempo normal pela sua inaptidão ao ataque e o inevitável nulo permaneceu até o fim do tempo regulamentar.

Como estava, já não havia mais sentido coletivo algum em Portugal, que ficou dependendo dos seus valores individuais. E Diogo Jota disse presente quando rompeu com a bola entre os defensores e só parou quando foi derrubado na área: pênalti indiscutível e a grande chance de Cristiano finalmente marcar o seu e estabelecer o recorde que, mesmo dizendo o contrário, incomodará até que consiga, mas faltou-lhe a calma de costume e o chute, forte e à meia-altura, foi desviado por Oblak e encontrou seu poste esquerdo antes de sair.

Se o veterano avançado falhou, o jogador com mais rodagem da Terra entre todos que já estiveram pelas andanças da Eurocopa, o monumental Pepe, foi tentar um passe em zona proibida e errou tudo: bola, chão e tempo de bola. E Sesko, 20 anos mais moço, ficou com o gol à sua frente, mas desperdiçou. Ou melhor, Diogo Costa, com o pé, operou o primeiro milagre da noite já a dois minutos do fim. Seria injusto Portugal cair por erros justamente de Pepe e de Cristiano.

Quando acabou o jogo, o capitão caiu. Trocou o chilique dos gols falhados por um choro que o fez tocar o chão dos mortais, posto que é humano. Daí surgiu Diogo Dalot, seu melhor – e talvez único – amigo na segunda passagem pelo Manchester United, e o consolou. Foi bonito.

Mas ainda faltava o fado, o drama, o palco perfeito para o surgimento de heróis e vilões. E santos.

A canonização é possível quando dois milagres são comprovados. Faltava um. E este veio na forma de três pênaltis defendidos, mas não daqueles em que o goleiro escolhe um canto e seja o que Deus quiser. Foi buscar os três, a começar pela injustiça da perda nos pés de Ilicic, que venceu uma depressão e é um dos vencedores desta Euro.

Cristiano, mais calmo, se redimiu com uma cobrança perfeita que, não o fosse, teria parado nas mãos do outro santo dos postes. Bruno Fernandes e Bernardo Silva foram chamados e colocaram Portugal no comboio para Hamburgo, onde a França, também de prestações mínimas até aqui, espera para mais um duelo entre os países que disputaram uma final e duas meias finais.

E será preciso mais, pois milagres não acontecem todos os dias.

* Marcos Teixeira, 45, é jornalista, lusitano e colunista do site Ludopédio.org

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do NETLUSA


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Taubaté
Taubaté
3 meses atrás

Com toda honestidade do mundo gostaria que Tomazella fosse o autor de 3 defesas, e claro nós na semi e o Santos tomado no rabo, mas vlw Diogo e Portugal.

j alex - atibaia
j alex - atibaia
3 meses atrás

o CR7 não pode continuar a bater todas as faltas, é só levantar as estatísticas e ver que seu aproveitamento é atualmente muito fraco, outra coisa, toda bola das laterais, seja pela direita ou pela esquerda são lançadas para ele, mas ele não tem mais rapidez e a velocidade de antes, no campeonato saudita de 4 chances ele faz 1, deveria jogar só o 2o. tempo.

Carlos Freitas
Carlos Freitas
3 meses atrás

Alguns vão dizer ao contrário e talvez ele nos cale, mas o Cristiano passou do ponto e já não é o mesmo, e do jeito que está a jogar só atrapalha. É um tal de cruzar bolar pra ele na área que parece que só há essa forma de jogar.
“Santo” Diego com suas milagrosas defesas o salvou de um vexame extremo.
Agora o técnico deve ter escutando algum torcedor fanático e fez a pior substituição possível, tirou um dos melhores e colocou o péssimo Conceição, pelo menos a meu entender não merece estar na seleção. Tem melhores.