“Em casa de ferreiro, o espeto é de pau.”. Surrado, mas atual, esse ditado popular se aplica integralmente à história da Portuguesa. Se dentro de campo, a equipe do Canindé não titubeia na hora de lançar jovens atletas, seja por necessidade ou por crença – e isso varia de acordo com momento do clube –, fora das quatro linhas, a história é outra. Muitas vezes, o time reluta a apostar em um treinador que já prestou bons serviços nas categorias de base da agremiação.
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Mas o ano de 2024 parece ser especial mesmo. Em meio as discussões de Sociedade Anônima do Futebol (SAF), a disputa na fase de mata-mata do Paulistão e a desejada, importante e fundamental classificação à Série D em 2025, o comando da nau lusitana resolveu dar oportunidade a Alan Dotti.
Uma oportunidade, diria, até tardia. Mas como nos lembra outro dito popular: “antes tarde do que nunca.”. Dotti, chegou a tua vez. E merecidamente ela chegou.
Se vai dar certo ou não no time profissional, é outra história. E vamos analisar naturalmente quando a bola rolar na Copa Paulista deste ano, ou seja, logo mais em junho próximo. Agora, é preciso sublinhar a mensagem: a Lusa somente voltou a trilhar o caminho de retorno depois que olhou para os seus.
Na noite do “Galo Bravo”, em 1972, a Portuguesa do então presidente Oswaldo Teixeira Duarte colocou para fora uma turma boa de bola, alguns ídolos até, mas que em campo não estavam lá tão comprometidos com as cores rubro-verdes. Qual foi o resultado desse comando? Subiram um punhado de garotos bons de bola, Eneas, por exemplo, e o título paulista veio no ano seguinte. E tanto faz aqui a polêmica final diante do Santos. Porque a geração era tão boa, que em 1975 já disputava o caneco novamente do Paulistão, contra o São Paulo.
Duas décadas depois, a Portuguesa simplesmente fez a melhor campanha de todos os tempos da Copa São Paulo de Futebol Júnior até 2024: os losangos flutuantes de Écio Pasca, que revelou Dener, Sinval, Tico e companhia. Mas o que fez a diretoria a época? Subiu Dener de bate-pronto, Sinval e o restante precisou se virar nos 30.
Resultado? Gastou um bom dinheiro na contratação de Maurício, Nilson, Aravena, Cristóvão, Adil e companhia para ser eliminada pelo Corinthians em um quadrangular decisivo do Paulista de 1991. Ou seja, não beliscou nem a final.
Ah, sobre o técnico? Por merecimento, Écio Pasca deveria ter tido a oportunidade no time de cima. Mas a Lusa escolheu Emerson Leão.
Depois veio a era Benazzi e novamente com uma garotada da categoria de base, a Lusa voltou à Série A do Brasileiro e à primeira divisão do Paulistão.
Então, fica óbvio que a Lusa não tem medo de lançar a garotada, mas titubeia na hora de entregar o comando a técnicos da categoria de base. Por isso, a escolha por Alan Dotti é simbólica e faz muito sentido.
Basta lembrar a Copa Paulista de 2023. Leandro Zago, um treinador igualmente novo, mas acostumado a treinar a base em outros lugares foi o escolhido e os resultados também não foram como o imaginado. Dotti, inclusive, já poderia ter assumido ali a nau rubro-verde.
Mas passado é passado, eu sei. Só que ele pode nos ensinar um tanto, quando prestamos atenção aos meandros das escolhas.
Dotti, sem dúvida alguma, foi um dos responsáveis pelo renascimento da categoria de base rubro-verde no tocante à disputa no relvado. A Lusa foi competitiva sob sua batuta e revelou. Revelou Paraizo, mas também Ronaldo, também Kadir, também Patrick, também, também…
Base é para isso. É para revelar. Título na base também é gostoso. Também se comemora, mas é a cereja de um bolo bem assado. O melhor mesmo é revelar.
Portanto, é evidente que Dotti terá, desta feita, sua grande chance à beira do gramado. E se for mal, terá espaço na base rubro-verde. Agora, se for bem, a administração Castanheira vai ganhar um prazeroso problema para equacionar em 2025. E eu tenho certeza de que ele não vai reclamar a respeito. Boa sorte, Dotti! Pise fundo, porque a nossa fé te empurra!
* Maurício Capela é jornalista há 28 anos. Comentarista, já trabalhou em diversos veículos, como RedeTV!, 105 FM, Tropical FM, Veja, Valor, Gazeta Mercantil.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do NETLUSA