Foto: Mourão Panda/América-MG

Nessa semana vi o resultado de um jogo que me fez pensar sobre o lugar da Portuguesa no futebol: América-MG 2 x 3 Tolima, válido pela Libertadores. A fase de grupos está acontecendo e temos ali um time de fora do “G-12”, tradicional, que frequenta as principais divisões nacionais, mas muitas vezes acaba ‘esquecido’ por dividir a cidade com rivais com muito mais títulos.

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Há cerca de 10 ou 15 anos, lembro que muito se falava sobre uma possível modernização do Alviverde, que reformou seu estádio e dava mostras de organização. Nossa torcida provavelmente vai lembrar de 2010, quando chegamos na última rodada da Série B disputando a última vaga com eles (ficamos de fora, mas, vendo pelo lado bom, foi aquele insucesso que permitiu o surgimento da Barcelusa).

Acabou passando vários anos como “iô-iô” – apelido daquelas equipes que variam de divisão com frequência. Em 2014, inclusive, perdeu a vaga na Série A por conta de uma punição por pontos no STJD, algo parecido com o que aconteceu conosco no ano anterior (a diferença foi a altura do campeonato em que houve a punição).


Mas de 2020 pra cá, parece que tudo deu certo pro América. Acesso na Série B (o título não veio por um detalhe muito polêmico no saldo de gols contra a Chapecoense), uma chegada às semis da Copa do Brasil e a inédita classificação pra Libertadores, via Brasileirão 2021.

A própria Libertadores deles me parece uma campanha com “a cara” da Lusa. Na estreia, recebeu o Guaraní, do Paraguai, em Minas. Uma baita festa da torcida, expectativa, 24 chutes contra apenas cinco dos visitantes. Resultado? 1 a 0 para o Guarani.

Na volta, em 15 minutos tomaram mais dois gols. Parecia tudo perdido, mas o time foi lá e virou, com direito a gol nos acréscimos e classificação nos pênaltis. Ainda teria mais penalidades na fase seguinte, contra o Barcelona, do Equador, antes de chegar aos grupos.

E quem a equipe encontra nessa fase? O Atlético-MG, rival histórico. Conseguiram sair na frente e segurar até a reta final da partida no Mineirão, quando o Galo empatou num gol claramente impedido. Clássico com casa cheia e erro de arbitragem, te lembra alguém?

Aí chega o jogo mais recente, o que citei lá em cima, contra o Tolima. Venciam por 2 a 1, quando um gol perto dos 40 e outro perto dos 50 deram os pontos pro clube colombiano. Uma pena, seria bem legal ver o América nas fases finais, mas está cada vez mais improvável.

Mesmo assim, vendo essa campanha eu fiquei pensando: podia ser a gente ali…

Um dos meus sonhos era ver a Lusa recebendo um time gringo no Canindé em jogo oficial. Pra mim foi uma sensação muito legal jogar a Sul-Americana em 2013, mas o fato de o rival ser o Bahia e ambos estarmos com equipes reservas tirou um pouco o brilho. Até hoje eu penso aonde a Portuguesa poderia ter chegado se jogasse com o time titular – que fez 4 a 2 nos titulares do Bahia naquela mesma semana. A Ponte Preta, que tinha um elenco bem pior que o nosso, chegou na final!

Escrevo essa coluna não para deixar um sentimento de lamento, de tempo perdido. Muito pelo contrário: a ideia é lembrarmos sempre de ter esperança. O América parece ser a prova de que trabalhos bem feitos e com alguma responsabilidade podem dar frutos interessantes a longo prazo – ao menos é a impressão que se tem olhando de longe.

Quantos torcedores do time mineiro imaginavam que o time chegaria a uma Libertadores em 2007, por exemplo, ano em que foram rebaixados à segunda divisão do mineiro e não disputaram nenhuma divisão do Brasileirão – como nós nestes últimos tempos.

Porém, nada acontece de uma hora pra outra, com ascensões radicais. Quem não se lembra dos anos a fio que o Fortaleza, outro que tem passado por ótimas temporadas e também chegou à Libertadores, ficou ‘preso’ na Série C?

Sinceramente, não tenho opinião formada quanto à história da SAF. Acho que com ou sem, dá pra sonharmos com a Lusa voltando às disputas da Conmebol até o fim dessa década, ou na próxima. Mas pra chegar lá, é preciso ter paciência. Muita paciência.

* André Carlos Zorzi é jornalista, autor de “Para Nós És Sempre O Time Campeão – A Portuguesa de 1996” e coautor de “Lusa: 100 Anos de Amor e Luta”.

7 comentários

  1. Eu diria pés no chão, muito trabalho e principalmente transparência na administração, salários em dia e o restante será consequência, eu acredito a lusa é gigante, que os abutres fiquem longe do canindé.
    Na fase boa iram aparecer centenas de aproveitadores.

    Alguns passos já foram dados, dívidas estão contabilizadas, futebol na parte administrativa excelente, estamos voltando……

  2. Acho que havendo união dentro do clube e seguindo esses bons exemplos, podemos chegar lá. Agora essa história da SAF precisa ser muito bem pensada, senão poderá ser um tiro no pé.

  3. Texto maravilhoso André. Cabe a reflexão e sonhar com a nossa Lusa grande! Amor e ódio se misturam, mas o que fica é o orgulho de ser lusa.Abraço Fernando Duarte

  4. André, maravilhoso texto. Há pouco mais de um ano, em um hotel antes de um jogo da Portuguesa o então treinador Fernando Marchiori, perguntou-me do porquê de eu estar interessado e sempre citar o América que era dirigido pelo Lisca e eu respondi exatamente o que você explana agora, além de o time estar jogando à época o futebol mais refinado do Brasil naqueles tempos.

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