Foto: Divulgação

Antes de mais nada, a resposta à pergunta do título é “não” (pensando na elite do Brasileirão, sem contar a Série B). Foi mais para chamar atenção a um tema que por vezes ressurge no Brasil: o revisionismo de títulos nacionais.

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Nesse primeiro semestre de 2022, vi algumas notícias indicando que o Atlético-MG preparou um dossiê para pleitear na CBF que o título de um torneio de 1937 (do qual a Portuguesa também participou) fosse considerado como um Brasileirão. Muitos times têm certa obsessão com essas ‘canetadas’ – comemoradas por parte da torcida, e motivo de piadas por outra. Eu acho boa parte desses pedidos artificiais.

O caso mais emblemático foi o reconhecimento da Taça Brasil e do Robertão, em 2010, que fez o Santos e o Palmeiras dispararem em títulos. À época, nosso presidente Manuel da Lupa chegou a declarar que planejava solicitar que os títulos de 1952 e 1955 fossem considerados como Brasileiros. Nunca soube até que ponto levaram isso, de fato, em frente.


A tal Copa dos Campeões do Atlético pode ter sido um torneio bastante importante pra época. Mas, convenhamos, tendo a presença e possibilidade de participação somente por times sudestinos, não é um título nacional. Assim como os Rio-São Paulo vencidos pela Portuguesa.

O primeiro deles completou 70 anos neste mês, no último dia 19. Antes do jogo do título, em si, há outro que foi decisivo na campanha, e que vou abordar pelo lado da curiosidade.

Na última rodada da primeira fase, havia três postulantes ao título: Lusa, Vasco e Fluminense (do técnico Zezé Moreira, que também treinava a seleção brasileira à época), todos com 10 pontos. No Pacaembu, o tricolor das laranjeiras abriu 2 a 0 no Corinthians no 1º tempo, mas acabou levando a virada por 4 a 2. O campeão sairia mesmo do encontro português no Maracanã.

Àquele dia, a Portuguesa foi a campo com Muca; Nena e Noronha; Santos, Brandãozinho e Ceci; Julinho Botelho, Renato, Nininho, Pinga e Simão. O Vasco não ficava atrás, com Barbosa; Bellini e Wilson; Ely, Aldemar e Jorge; Friaça, Ipojucan, Ademir, Alvinho e Jansen.

Fazia muito calor, e um desentendimento entre Pinga e Ely fez com que ambos fossem expulsos logo na etapa inicial. O jogo acabou marcado por uma grande confusão, que precisou até de intervenção da polícia, com agressões e correria de ambos os lados. Alguns dos mais exaltados foram o presidente da Portuguesa, Mario Isaías, e o histórico massagista Mário Américo, então no Vasco. O jogo acabou sendo reiniciado apenas 9 minutos depois, quando o árbitro explicou que não apenas o jogador do Vasco tinha sido expulso, mas também o da Portuguesa.

O momento é narrado no livro “Memórias de Mário Américo – O Massagista dos Reis”, de Henrique Matteucci: “O fato é que houve um pega-pra-capá no meio do campo e o Ely do amparo deu uma pernada no Pinga. Aí começou o sururu e até o presidente da Portuguesa entrou. Ele correu na direção do Ely e deu-lhe um pontapé duro na canela. Fiquei furioso e, sem saber de quem se tratava, disse-lhe uns desaforos.

Ele não teve dúvida: partiu pra cima de mim com todo aquele seu corpão. Foi fácil. Esquivei, dei-lhe uma cruzeta justa no queixo e ele caiu estatelado no gramado. Foi quando o Djalma Santos me segurou pelo braço: Chiii, Mário, que é que você fez, cara… Esse é o nosso presidente! […]

Recebi dezenas de cartas e telegramas de São Paulo, inclusive um que dizia: “Você não teve culpa. O culpado fui eu. Um presidente não tem o direito de entrar num campo para brigar. Desculpe-me. (a) Mário Augusto Isaías”.

Folclore à parte, o jogo terminou em 1 a 1. À época, o empate em pontos na tabela forçava a realização de mais dois jogos. A Portuguesa venceu o primeiro por 4 a 2, em São Paulo, e depois empatou no Rio por 2 a 2. Voltaríamos a vencer o Rio-São Paulo em 1955.

Além dos títulos e de algumas históricas goleadas (como o 8 a 0 no Santos), a década de 50 também marcou as excursões vitorias do Tri-Fita Azul e a presença de lusitanos na seleção brasileira, como Brandãozinho, Julinho Botelho, Djalma Santos e Pinga. Precisaríamos de um título nacional pra reconhecer a grandeza de tudo isso?

* André Carlos Zorzi é jornalista, autor de “Para Nós És Sempre O Time Campeão – A Portuguesa de 1996” e coautor de “Lusa: 100 Anos de Amor e Luta”.

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