Grupo inglês que promete investimento na Lusa levanta suspeitas sobre capacidade financeira

Grupo inglês interessado na remodelação do Canindé levanta dúvidas após revelação de inconsistências financeiras.

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Foto: Will Lusa

A recente proposta de investimento de R$ 1,5 bilhão para a remodelação do estádio do Canindé e no Centro de Treinamento do Parque Ecológico do Tietê, apresentada por um grupo inglês, cujo o nome ainda não tinha sido divulgado, atraiu atenção pela promessa de uma reestruturação significativa.

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Contudo, o NETLUSA teve acesso à carta de intenções apresentada ao Conselho de Orientação e Fiscalização do Clube. Trata-se da empresa Indico Capital Development & Ventures Limited.

A empresa, segundo o documento, conta com unidades de negócios e parceiros na África, Ásia-Pacífico, China, Oriente Médio, Europa e Américas do Norte, Central e do Sul e trabalha com os segmentos de Agronegócios, aviação, commodities, finanças, investimentos, metais e minerais, petróleo e gás, imóveis e trade finance, contribuição para o combate à corrupção, violência contra crianças, doenças, pobreza e fome.

A INDICO Capital apresentou balanço ao governo inglês em agosto deste ano, afirmando que detinha £100 milhões (cerca de R$ 739 milhões) em capital próprio de ações. Essa quantia seria composta por £76 milhões (R$ 562 milhões) do Hare Capital Group e £24 milhões (R$ 177 milhões) da Americas Bancor Investment Limited. Entretanto, documentos obtidos pelo portal indicam uma realidade distinta e preocupante.

Divergências no balanço oficial

Conforme os registros de auditoria oficiais do grupo junto ao governo inglês, o valor real dos ativos, capital, reservas e fundos dos acionistas da empresa estaria muito abaixo do anunciado, somando apenas cerca de £150 mil (cerca de R$ 1,1 milhões). Isso significa que a maior parte dos recursos declarados como capital não existe no caixa da empresa e que o investimento proposto estaria longe de ser viável com base nos fundos atuais.

Segundo o balanço oficial, nenhuma das participações acionárias foi integralizada. Ou seja, os sócios sequer disponibilizaram à empresa os valores comprometidos com a participação acionária e que mesmo se os valores estivessem integralizados, a empresa sequer disporia de fundos bancários comprovados para arcar com a operação.

Análise das empresas envolvidas

Além da INDICO Capital, outras empresas do grupo levantam questionamentos sobre sua capacidade financeira.

1.         Americas Bancor Investment Limited:

o          A Americas Bancor, incorporada ao grupo com uma avaliação de US$200 mil (R$1,14 milhões), foi criada em fevereiro de 2024 e declarou que esse valor seria seu capital disponível. No entanto, documentos revelam que o capital não foi integralizado, ou seja, a quantia informada não foi realmente aportada.

2.         Hare Capital Group:

o          A Hare Capital, listada como responsável pela maior parte do capital do grupo, afirmou em abril de 2024 ter investido £200 mil (cerca de R$ 1,5 milhões), com um saldo de apenas £50 mil (R$ 369 mil) em caixa. Esse balanço foi oficialmente aprovado em julho de 2024. Assim, o valor declarado pela Hare Capital para a INDICO Capital não corresponde à sua realidade financeira.

3.         Indico Merchant Capital Limited:

o          No mesmo endereço da INDICO Capital, uma empresa chamada Indico Merchant Capital Limited compartilha os mesmos sócios. Contudo, esta empresa, que não é a que apresenta a carta de intenções, afirmou que sequer realizou negociações durante o ano fiscal de 2023/2024 e que possui apenas £150 mil (R$ 1,1 milhão) em caixa.

Histórico questionável?

A análise financeira não é o único ponto de preocupação. Um dos sócios da INDICO Capital, Ruy Manuel Rufino Caleiro de Oliveira e Silva, foi processado, mediante inquérito que teve origem na Policia Federal de São Paulo e fora arquivado em 2020, trazendo uma questão de credibilidade adicional ao cenário.

Além das empresas mencionadas, uma nova organização foi fundada com o mesmo propósito de reestruturação, Brasbaninvest, em setembro de 2024. Esse grupo alega ter um capital de £100 milhões, sendo novamente composto pelas mesmas quantias de £76 milhões (R$ 562 milhões) da Hare Capital e £24 milhões (R$ 177 milhões) da Americas Bancor.

A semelhança entre as operações e os sócios das duas empresas levanta suspeitas de que esse pode ser um esquema repetido, uma vez que a Brasbaninvest também não possui ativos realistas para a execução do projeto, segundo seu balanço oficial que, igualmente, não tem integralização do capital social ou informações bancárias.

Proposta ameaçada?

Apesar da magnitude do investimento anunciado, as informações sobre a situação financeira do grupo revelam uma possível fragilidade e falta de lastro para sustentar as promessas feitas à Portuguesa.

A falta de transparência nos valores e ativos declarados e a ausência de integralização dos recursos podem indicar uma proposta insustentável, colocando em risco a tão desejada reestruturação da Portuguesa.

Sobre a proposta feita à Lusa

No início de outubro, o jornalista Jorge Nicola noticiou sobre o grupo inglês que estaria interessado em fechar parceria com a Lusa desembolsaria um valor de R$ 600 milhões para o projeto. Além disso, um conselheiro que é o grande entusiasta para esse negócio ser fechado frisou que a Lusa receberia mais dinheiro do que equipes que estão na elite do Brasileirão, como Botafogo, Cruzeiro e Vasco.

Contudo, semanas depois, foi divulgado que o valor seria de R$ 1,5 bilhão, mantendo o futebol no controle da Rubro-Verde. A proposta foi apresentada por intermédio do ex-deputado Vicente Candido (PT).

Entretanto, de acordo com o que foi divulgado no Blog do Paulinho, o político, que foi ex-diretor do Corinthians na gestão Andres Sanchez, seria parceiro do iraniano Kia Joorabchian desde os tempos da parceria entre o Alvinegro e o MSI, que gerou diversas polêmicas no Parque São Jorge.

O outro lado

Em contato com o NETLUSA, um dos membros envolvidos diretamente na conversas entre o grupo inglês e a Portuguesa, no qual pediu para não ter o nome divulgado, informou que a carta de intenções encaminhada para a reportagem não é a última carta. O documento estaria sob sigilo e constaria mais informações sobre o assunto, detalhando o planejamento imobiliário, futebol e pagamento de dívidas.

Além disso, o documento consta com um anexo que no qual fala toda a reestruturação jurídica e financeira. Além disso, foi informado que o grupo desenhou todo o planejamento do que seria interessante para o clube atingir as suas metas, com valores como R$ 25 milhões em pagamento na hora, outras três parcelas do mesmo valor e mais R$ 10 milhões que seriam direcionados para as categorias de base por ano.

De acordo com o que foi divulgado, seria um fundo inglês que utilizaria dinheiro saudita, com o objetivo de revelar jogadores. Isso porque a Arábia Saudita receberá a Copa do Mundo de 2034 e estão comprando clubes pelo mundo, com a finalidade de revelar atletas para ter um bom desempenho no torneio.

Sobre o grupo, ele seria de uma família de banqueiros chamada Rockfield e uma fusão de outros grupos. Como quem busca captação de recursos não poderia fazer a gestão e, diante disso, criaram a empresa que faria a gestão junto ao clube e abriria uma subsidiária no Brasil.

Diante disso, o clube precisaria encaminhar o balanço e o plano de negócios nos próximos cinco anos, tanto na parte desportiva quanto estrutural, até o dia 31 deste mês. A partir disso, a auditoria do fundo viria ao Brasil para aprovar o pré-contrato. E já teria arquiteto contratado com o projeto.

Indagado sobre a relação entre Vicente Candido e o iraniano Kia Joorabchian, o conselheiro negou que o empresário teria relação com este projeto no Canindé.


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