Marcos Teixeira: O desafio de sobreviver às saídas dos destaques

Previsibilidade, prospecção e assertividade no mercado. Este é o tripé que pode criar um chão onde a Lusa possa colocar os pés

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Foto: Ronaldo Barreto/NETLUSA

A Portuguesa emprestou alguns dos seus prováveis titulares na disputa da Copa Paulista. Obviamente, teve gente que reclamou, onde já se viu deixar os melhores saírem? Quero ver a reposição! É sempre assim, que nunca mais ponha os pés no Canindé!

+ “Nosso jogo é guerreando”: veja os bastidores da vitória da Lusa

Houve quem compreendesse. A Copa Paulista não é vitrine, não é atrativa e só está no horizonte de quem busca um lugar ao sol ou não conseguirá algo melhor mesmo.

Quem está errado? O torcedor, que quer que os destaques fiquem e cumpram o destino de recolocar a Lusa no lugar dela e quem fizer pela vida em outros cantos que vá para o caralho? Os jogadores, que têm mais é que buscar quem lhe ofereça, dentro do seu plano de carreira, as melhores condições? A diretoria, que não amarra ninguém com multas milionárias, nem arranja um investidor?

Ninguém está errado.

Mas há outro grupo: o dos resignados, que sabem que é assim mesmo e que não há o que fazer, a não ser esperar pela redenção em forma de surgimento de um novo Dener, um Zé Roberto, 30 anos depois, ou mesmo um xeique disposto a lavar seus petrodólares ou euros nos lados do Pari.

Achamos o erro. Se ele for cometido por quem toma as decisões, então, é todo o caminho andado para seguirmos no limbo. Mesmo deixando escapar um Talles, um Denis, um Maceió, é nítido que o patamar de quem veste a camisa da Lusa subiu. E subiu a ponto de despertar o interesse de clubes das séries A e B.

“Beleza, Marcos, então é isso?”. É e não é. É porque, no ecossistema da bola, não é difícil perceber que a Portuguesa está na base da cadeia alimentar e que todo bicho que se move pode ser o predador. Entender essa situação é fundamental para o que vem a seguir: a previsibilidade e a antecipação.

Uma vez admitida a fragilidade no mercado da bola, é preciso detectar os potenciais alvos do mercado – os jogadores que apresentarem o equilíbrio entre talento e margem de crescimento -, que ao cabo são os melhores do elenco. Depois, buscar substitutos. É a tal antecipação que eu falei lá em cima.

Esse trabalho de prospecção, de preferência, deve detectar o atleta a ser abordado antes da saída do destaque já sinalizado. Obviamente, deve ter características que se sejam adequadas ao tipo de futebol que o time quer praticar.

O livro Soccernomics, que o jornalista Simon Kuper, do jornal Financial Times, e o professor de economia Stefan Szymanski, da Universidade de Michigan, lançaram em 2009, destaca como o Lyon, da França, foi da condição de um time qualquer da segunda divisão francesa para hepta campeão nacional quando foi adquirido pelo empresário do ramo de softwares Jean-Michel Aulas.

Sim, um empresário bem sucedido comprou um time endividado e o transformou na potência que só foi desbancada pela negociata que envolveu o Catar, o PSG, o presidente da França Nicolas Sarkozy, Michel Platini e a compra de votos da Europa para a escolha da sede da Copa do Mundo de 2022.

O Málaga, por exemplo, foi comprado por um desses aventureiros que volta e meia surgem, chegou a fases altas da Liga dos Campeões, não ganhou nada, gastou de qualquer jeito e hoje sua torcida festeja o retorno à segunda divisão espanhola. Vejam, portanto, que não se trata somente do dinheiro, mas do que fazer com ele. O Lyon, por sua vez, detectava seus maiores ativos e os vendia, e bem. Benzema, Diarra, Malouda, Essien e Abidal fizeram muito dinheiro para o clube.

Antes que me chamem de louco, não estou comparando porque não se trata de chegar onde o Lyon chegou, e sim de arrumar um chão firme onde se possa colocar os pés rubro-verdes. Sem metodologia, know-how (não há termo melhor em português, lamento) e competência para trabalhar, o pneu seguirá girando em falso, atolado no limbo da Copa Paulista.

Profissionalismo não basta. A Lusa teve gente vivida no futebol – e festejada por mim aqui – que não esteve à altura da missão. É lugar comum, mas é necessário ter gente capaz de fazer esse trabalho de detecção e prospecção dentro do alcance de nossos ainda curtos braços. Acreditem: ter um profissional assim é um investimento que pode ser mais caro a curto prazo, mas valerá mais ser feito do que contratar dois ou três medalhões distantes de seus melhores dias para se manter na elite do Paulistão e garantir a vaga na Série D do ano seguinte. A estrutura não é só física, é pessoal também.

Não que represente uma garantia, porque nada garante resultados, mas um trabalho bem feito aumenta as possibilidades de acerto.

* Marcos Teixeira, 45, é jornalista, lusitano e colunista do site Ludopédio.org

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do NETLUSA


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Luiz Gustavo - Santos/SP
Luiz Gustavo - Santos/SP
3 meses atrás

Na minha visão, vou usar o Talles como exemplo, vamos vender o Talles por migalhas porque o Avaí é um time falido também (se vira com poucos recursos) e no campeonato Paulista 2025 vamos trazer mais alguma tranqueira barata, que ninguém quer, para satisfazer algum empresário chupim que ronda o Canindé (e é “amiguinho” do ACC). Se é para vender por quê não usar nossos bons jogadores no Paulistão (maior vitrine nacional), não correr mais risco de rebaixamento, garantir ao menos uma Série D 2026 e lutarmos por uma vaga na milionária Copa do Brasil 2026? Aí venderíamos mais caro… Leia mais >

Rodolfo Vicente Teixeira
3 meses atrás

Belo texto, sábado temos de fazer os três pontos, o empréstimo dos jogadores prejudica o trabalho da comissão técnica, a reposição precisa ser bem analisada para não trazer jogadores ruins, somos um clube em reconstrução que precisa ter visibilidade no cenário futebolístico, “sonhar não custa nada” e ainda verei a Portuguesa de volta ao patamar de onde nunca deveria ter saído, sem mais, VAI LUSA PÔ!

José
José
3 meses atrás

Para o campeonato Paulista acaba montando um time para “Inglês” ver.

LEONINO
3 meses atrás

O desafio de renascer sem as saídas de destaque ! Aí sim , o caminho nos levaria ao crescimento novamente !!!!! Fora isso , é chover no molhado !!!! Somos uma estátua empoeirada , sem movimento algum ! Na praça da amargura , enquanto mentes retrógradas continuarem no comando !!!!

LEONINO
3 meses atrás

O desafio de renascer SEM as saídas de destaque !!!! Tem que ficar um pouquinho mais , talvez dois anos no mínimo! E o que era uma pedra semi-preciosa pode se tornar um diamante ! Lapidado ou não !!!! Sim ,essa comparação com noia cai como uma luva também !!!!

José
José
3 meses atrás

Eu também Inglês kkkk só prá descontrair. 2011 foi time ajustado.

FERA DE GUARULHOS
FERA DE GUARULHOS
3 meses atrás

PORRA MANO, VENDEM MAL E COMPRAM PIOR!!! PQP!!! DEVIAM TOMAR UMAS AULAS COM O REI DO GADO PRA SABER COMO VENDER BEM AS JOIAS DO CANINDÉ!!!! DESSE JEITO OS MOLEQUES SAEM A PREÇO DE BANANA E O TIME FICA NA MERDA!!! DIRETORIA DA VERGONHA!!!

LEONINO
3 meses atrás

A diretoria não acerta nem na orelha de um rinoceronte ! São péssimos de pontaria !!!

LEONINO
3 meses atrás

A idéia é deixar o clube na mesma condição! Não há interesse em retomar o crescimento !!! Isso parece ser conveniente prá eles ! E sabem disso !!! A administração é voltada para eles e não para o clube !!!! Vão dirigir um clube da Sibéria ! E que fiquem esperando o Sol por lá mesmo ! E só de bermuda e camiseta !!!!

fernandinho tatuape
fernandinho tatuape
3 meses atrás

os coreano ja estão mandando na lusa, o castanheira ta levando quanto nisso ai?

LEONINO
3 meses atrás

Como mandaram no Atlético Sorocaba que até chegou a participar do Paulista A1 e acabou desaparecendo do mapa !!!!

Arivaldo Mendes Miranda
Arivaldo Mendes Miranda
3 meses atrás

Penso assim,a Portuguesa tem que pagar mensalmente 250 mil, mais 150 mil no mínimo de folha salarial e não tem,acho que tem que emprestar sim ou tirar do orçamento de 2025, daí não monta um time decente e cai e ainda tem que arrumar um time pra Série D,vai subir pra C como?

EMERSON SILVA
3 meses atrás

A Portuguesa precisa urgentemente,virar saf com um bom investimento para voltar a disputar os principais campeonatos do Brasil.

j alex - atibaia
j alex - atibaia
3 meses atrás

nossa situação é bem difícil, imagina o administrador saber que tem de arrumar $$$ para pagar o que prometeu para não ter nova penhora. e ver pouco $$$ entrando. Nessa situaçao ele tem de vender o que tem, só que tem pouco. Com a criação dos subs (19 e 17) a reposição já melhora, esse Alan Dotti e o César podiam ser os caras do acompanhamento/revelação de moleques. Mas tudo passa por : acreditar/investir. Temos credibilidade ????

Delfim Gonçalves
Delfim Gonçalves
3 meses atrás

Esperança zero sendo que temos um presidente incompetente e um clube completamente falido ou seja fecha essa 💩 e joga as chaves na 💩 do Rio Tietê 😉

José
José
3 meses atrás

É pessoal fudeu, 0 TRT2 de SP, revogou a portaria de 2021 que a Portuguesa, que pelo que entendi proibia mediante parcelamento das dívidas a penhora dos bens. Quem entende, a sentença do desembargador está no ” blog do paulinho” de hoje. Favor simplificar aqui quem é do ramo.