Foto: Ronaldo Barreto/NETLUSA

“Titio, posso te fazer uma pergunta?” Foi assim que Maria Rita, 7 anos, tocou em um dos assuntos mais importantes da humanidade. Ela queria saber para qual time torcer, qual distintivo iria levar no seu coração. Este é o momento mais esperado por todo pai que se preze, mesmo ela sendo minha enteada. Enteada ou filha, tanto fazia. O momento mágico na vida de um torcedor havia finalmente chegado.

LEIA TAMBÉM: Sérgio Soares agradece apoio da torcida da Lusa: “Foi o 12º jogador”

Por causa da pandemia, o contato da Maria Rita com o futebol tem sido longe do estádio, pela TV, isso quando ela quer. Até outro dia, ela pouco ou nada se interessava pelo esporte bretão, a não ser quando o padrinho dela, o craque do futsal Danilo Baron (que começou na Portuguesa), está em quadra, ou quando quer saber para quem estou torcendo só para torcer contra porque é divertido.

E é.


Mas depois de uma conversa com os coleguinhas no prédio, foi despertada a necessidade de pertencer a algo. De vestir uma camisa igual. De ser como aquele que tem como espelho. E, no caso, o espelho sou eu.

Grande responsabilidade essa, que me colocou imediatamente num dilema moral. Afinal, devo incentivá-la a dividir as arquibancadas comigo e cumprir meu papel de educador ou zelar pela sua felicidade? Convenhamos, torcer pela Portuguesa e ser feliz pelos seus feitos desportivos não costumam ser condições que andam juntas.

Mas e daí?

E daí que dei toda liberdade para ela escolher. Até que, num belo dia, estávamos jantando fora e ela viu uma TV ligada:

Tá tendo jogo. Você não vai ver?
Não quero não. Você quer?
É da Portuguesa?
Não, é São Paulo e Palmeiras.
Ah, então não quero.

Ontem, ela me perguntou quando o NOSSO time joga. Ontem, pela primeira vez, viu o time que ela escolheu para torcer em campo, mesmo pela TV. Nem sabia direito do que se tratava, mas já sabe bem o significado de se sentir fazendo parte de algo.

Qual é a Portuguesa, titio?
A de vermelho, Maria.
Ah… posso torcer para empatar? É que assim ninguém fica triste.

Ela ainda não entendeu como funciona, mas, aos sete anos, não se trata de vencer ou não, e sim de desfrutar. O resultado do jogo com o São Bento – um até que divertido 0 a 0 – não fez a menor diferença. O que valeu para ela foi se sentar ao meu lado e se divertir. E rir. E falar “vai! Vai! Vai! Olé! Sai daí”, mesmo que para o lado errado.

Se tudo der certo, vai se apaixonar pela primeira vez na vida, assim como aconteceu comigo também aos 7 anos, quando meu Tio Albano me levou para ver a Lusa ganhar do Marília no Canindé, em 1985.

Fiz a minha parte, Portuguesa. Falta você fazer a sua. E nem precisa vencer. Basta me ajudar a fazer dela uma criança feliz.

* Marcos Teixeira, 43, é jornalista, lusitano e colunista do site Ludopédio.org

11 comentários

  1. Mais uma belíssima reflexão do Marquinhos Teixeira!!!! Passei e passo pelo mesmo dilema aqui em casa com as minhas duas filhas. A mais velha, ao entender como a banda toca e ver a Lusa ir para o calabouço do futebol e ser zoada na escola, migrou para o time da mãe.

    A minha esperança está na caçula de 5 anos, que fez no dia do empate com o São Bento. Ao ver as cores da lusa na rua me mostra toda feliz e sempre quer saber de quanto à Lusa ganhou!!!

    Portuguesa, reforço as palavras do Marquinhos, nos ajude!!!

  2. Muito bom ! Fazemos nossa parte e oxalá a nossa Lusa nos dê motivos mínimos para ainda cativar alguns pequeninos e perpetuar a nossa espécie (quase em em extinção). Fala aqui um Lusitano roxo desde 1971 …

  3. Sou Palmeirense e também na minha infância fui crescendo neste ambiente de pais, tios, primos e amigos que me fizeram apaixonar pelo clube. Hoje, ainda söcio “frequentador” curto os bons momentos que o clube proporciona a mim e a minha famīlia
    Este seu texto ė lindo, principalmente quando afirma que o importante não está em perder ou vencer, mas sim na oportunidade de fazer a felicidade de sua FILHA.
    Amei!

    PS: por mais que pareça, Não temos origem italiana e sim portuguesa. Sou filho de portugueses

  4. Meu caso não é tão diferente ! Meus dois meninos iam comigo ao Canindé até os oito anos, cresceram e viraram a casaca, na época o são Paulo estava em evidência, devido ao time dos menudos !!!em compensação, minha filhinha Isabela até hoje assiti comigo, e mesmo casada, ainda acompanha o velhinho !! Mas se subirmos, tudo pode mudar !!!!

  5. Belo texto !!!! Tenho certeza que foi o túnel do tempo para muita gente……ser mascote do time e entrar em campo quando Orlando era o goleiro e Piau o ponta esquerda, assistir o jogo no Canindé comendo tremoço e tomando sorvete Kibon de chocolate, muitas vezes em uma cabine de madeira quando não existia o terceiro anel, ter conhecido lendas como Oswaldo Teixeira Duarte, tomado caldo verde e comido sardinha na brasa nas festas juninas….Infelizmente com as filhas não houve sucesso, mas o netinho português vai ser Porto na cabeça e Lusa no coração !!!!

ATENÇÃO: este é um espaço para debate saudável sobre a Portuguesa. Todas as mensagens e os seus autores são rastreados. Seja educado e respeite os colegas do site. O NETLUSA não se responsabiliza pelo conteúdo dos comentários.

Please enter your comment!
Please enter your name here