Qual é o futuro da Associação Portuguesa de Desportos? Se esse questionamento fosse feito há três anos, a chance de ouvir algo muito próximo de “sobreviver” era favas contadas. Mas hoje, depois desses primeiros meses de 2024, a cantilena é outra. Não se trata mais de sobrevivência, agora é hora de falar em crescimento.
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Eu sei, eu sei que há a turma do contra que imagina ter a fórmula guardada a sete chaves em alguma gaveta por aí. Sei que enxergar o copo meio vazio está incrustado na alma rubro-verde. Mas chegou a hora de puxar esse dedo de prosa em outra direção.
Afinal, o que sonhamos para a Portuguesa? Queremos ver a Lusa transformada em Sociedade Anônima do Futebol (SAF), a nova panaceia do futebol brasileiro? Ou desejamos manter tal qual, na mão das diversas correntes políticas do clube? E mais: temos clube? Porque clube vive de associados. Então, temos associados?
A questão aqui não é sobre a atual gestão. Não é sobre a administração Antônio Carlos Castanheira. É sobre a Associação Portuguesa de Desportos.
Portanto, não basta reunião do Conselho Deliberativo do clube. A Lusa é maior que o conselho. E a torcida mostrou isso, porque a Portuguesa somente não deixou de existir por conta de seus torcedores, uns mais presentes, outros nem tantos. Não importa. Todos contribuíram se preocupando, ajudando, falando sobre as coisas da Lusa durante todo esse tempo. Todos são legítimos nesse processo.
Parece pouco. Parece que não foi assim. Parece que se esqueceram. Então, vamos lembrar… Vamos lembrar de quando a torcida se reuniu e limpou – sim, literalmente pegou no cabo de vassoura e varreu o clube inteiro. Não está bom? Então, vamos lembrar do S.O.S. Canindé, onde coordenados por uma turma boa, dedicada, conseguiram doações para deixar esse estádio, patrimônio imortal da comunidade luso-brasileira de São Paulo (SP) de pé. Achou pouco? Então, vamos para a reforma da gruta de Nossa Senhora de Fátima – aliás, olhai por nós nesse momento.
A SAF precisa ser discutida pela torcida. Há a necessária confecção de um plebiscito. Quem vai votar? Na minha humilde visão, sócios, claro, os que mantêm sua contribuição em dia. Os sócios-torcedores também. E naturalmente os conselheiros. E o restante da torcida? Bom, quem quiser votar deverá virar ou sócio ou sócio torcedor até um prazo determinado. Não dá para criar regra diferente diante de um tema tão relevante.
Ah, mas poderemos assistir a uma enxurrada de aderentes de ocasião? Poderemos. Há como controlar isso? Há. Como? Exigindo uma “joia” na hora de se filiar ao clube ou ao programa de sócio-torcedor. Há clubes que ainda cobram a “joia”. Palmeiras é um deles.
Essa medida vai eliminar por completo? Não. Vai mitigar? Sim. Acredito que irá restringir o apetite da politicagem de ocasião. E porque digo isso. Porque temos coisas importantes a votar. Listo abaixo:
- Você é a favor da SAF?
( ) SIM ( ) NÃO
- Uma vez transformada em SAF, as cores verde, vermelha e branca devem ser mantidas?
( ) SIM ( ) NÃO
- Uma vez transformada em SAF, o símbolo, a Cruz de Avis, deve ser mantido tal qual é hoje?
( ) SIM ( ) NÃO
- Uma vez transformada em SAF, você é a favor da inclusão de algum símbolo adicional para além da Cruz de Avis?
( ) SIM ( ) NÃO
- Uma vez transformada em SAF, você é a favor da mudança de nome?
( ) SIM ( ) NÃO
Como se percebe, a partir desses questionamentos será gerada a necessidade de outro plebiscito. E assim vamos. À exaustão.
Porque essa decisão não pode ser tomada a reboque de um bom momento. Porque essa decisão vai mudar a história de um clube centenário, tradicional e relevante do futebol brasileiro. Porque outros clubes já viraram SAFs e novos problemas emergiram – necessário aprender com que já tomou essa medida.
Porque essa decisão, torcida rubro-verde, tem que ser para colocar a Lusa no século XXI do futebol, com capacidade para montar timaços, disputar finais e levantar canecos. Qualquer coisa diferente disso, nossa gente já mostrou que é capaz de fazer: não precisa de SAF para repetir o script. Em tempo, eu sou a favor da SAF, mas só depois de um plebiscito.
* Maurício Capela é jornalista há 28 anos. Comentarista, já trabalhou em diversos veículos, como RedeTV!, 105 FM, Tropical FM, Veja, Valor, Gazeta Mercantil.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do NETLUSA