“Vamos à luta, ó campeões, hão de vibrar os nossos corações. Da tua glória, toda a certeza, que tu és grande, Ó Portuguesa”.
O trecho inicial do hino da Associação Portuguesa de Desportos, escrito pelo cantor Roberto Leal, reflete bem a grandiosa história desta instituição quase centenária fundada em 1920.
O clube 3 vezes campeão Paulista, 2 vezes campeão do Torneio Rio-São Paulo e que já contou com grandes jogadores como Djalma Santos, Leivinha, Ivair, Roberto Dinamite e Dener, passa pelo pior momento de sua história, dentro e fora de campo.
Durante décadas a Portuguesa é comandada por grupos políticos que se intercalam no poder. Com um estatuto obsoleto, não acompanhou os avanços que o futebol profissional moderno exige, e hoje arca com as consequências da má gestão.
Corroído por dívidas e com bens penhorados (a área do terreno onde fica o Canindé, estádio da Portuguesa, está penhorado em virtude de ações trabalhistas e débitos com a prefeitura. Um leilão marcado para acontecer em novembro pode definir o futuro do clube que ainda tenta parcerias para quitação das dívidas e até o tombamento do local como patrimônio histórico), a Portuguesa corre um grande risco de acabar.
O reflexo do péssimo momento externo é facilmente explicado em resultados dentro das quatro linhas. O clube sofreu sucessivas quedas no Campeonato Brasileiro (neste ano disputou a série C e terminou o campeonato com a terceira pior campanha entre 20 clubes, com apenas 25% de aproveitamento dos pontos e foi rebaixada para a D juntamente com América/RN, Guaratinguetá/SP e River/PI) e no Campeonato Paulista (atualmente disputando a A2, terminou o ano a 2 pontos da zona de rebaixamento,
É o fundo do poço.
Sem dinheiro para contratações e salários, o elenco da Portuguesa neste ano passou por diversos desmanches, com dezenas de jogadores chegando e logo saindo. Técnicos que dirigiram o time em 2016, foram seis – Estevam Soares, Felipe Lucena, Ricardinho, Anderson Beraldo, Jorginho e Márcio Ribeiro.
Jorginho, um dos grandes personagens recentes da história do clube, foi um destes técnicos. Esteve à frente do time entre junho e agosto, e questionado sobre a maior dificuldade nesta sua última passagem, foi enfático: “Financeira, pois é a base de tudo”. Jorginho, no entanto, faz questão de ressaltar seu respeito à instituição: “Fui para ajudar um clube que me deu a chance de ser quem sou hoje”.
E é justamente esta admiração e respeito que as pessoas demonstram com a Portuguesa que são os verdadeiros pilares de sustentação de tudo.
A torcida, neste contexto é, sem dúvidas, o maior patrimônio do clube.
Mesmo diante do pior cenário possível, o torcedor não desiste. Cobra intensamente, sofre.
Mas não deixa de acompanhar o time.
São estes torcedores que vão para a arquibancada, que frequentam o clube, que trabalham no clube, que patrocinam o time (numa iniciativa inédita, um pool de empresas da comunidade portuguesa estampou as marcas de seus comércios na camisa do time), que mantém rádios independentes como a Web Rádio Lusa, para acompanhar exclusivamente os jogos da Portuguesa. Que fazem trabalhos belíssimos como o documentário “Ivair, o príncipe do futebol”, do pessoal do Acervo da Bola que conta histórias da Lusa e do futebol.
E tantos outros exemplos de amor ao clube, que ficam anônimos e longe dos holofotes.
Para estas pessoas, aconteça o que acontecer, a Portuguesa jamais acabará.
“Vitória é a certeza, da tua força e tradição. Em campo, a Portuguesa, pra nós, és sempre um time campeão!”
Por Helio Nozaki, texto inicialmente produzido para a Revista Placar