Tiago Cabral: 1 milhão e 400 mil motivos para uma reflexão

Lusa perdeu o primeiro jogo na Série D e escancarou a necessidade de reflexão sobre o trabalho da comissão técnica

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Foto: Divulgação/Portuguesa

Nos últimos dias, diversos veículos de imprensa noticiaram que a folha salarial da Portuguesa, para a Série D do Brasileirão, giraria em torno de R$ 1 milhão e 400 mil por mês. Esse investimento nos torna, com muitas sobras, a maior folha salarial da competição. O valor é superior até aos gastos de todos os clubes da Série C.

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O futebol nos ensina diariamente que perder ou ganhar é parte do jogo, mas diante desse cenário, de investimento muito superior aos concorrentes e uma estrutura de qualidade, a esperança do torcedor rubro-verde era uma equipe muito superior aos adversários, enfileirando vitórias e consolidando-se como favorita ao acesso. Dentro de campo, após três rodadas, a sensação é de estagnação, falta de perspectiva de melhora ou de mudança.

O roteiro desse começo de Série D parece uma continuação do campeonato paulista. Um time com dificuldade de mudar seu estilo previsível e uma defesa completamente exposta para adversários contra-atacarem em velocidade. Situações que se complementam e que afetam as duas partes mais importantes do jogo: criação de oportunidades de gols e defesa.

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A Portuguesa fez 16 jogos oficiais no ano, com apenas 3 vitórias, 8 empates e 5 derrotas. Marcamos 21 gols e sofremos 22. A defesa só não foi vazada em três partidas: empate em 0x0 com a Ponte, vitória de 2×0 contra a Inter de Limeira e um empate em 0x0 contra o mesmo Água Santa, em Diadema, todos jogos do Paulistão.

Já nos empates contra São Bernardo e Noroeste, pelo Paulistão, na derrota nos pênaltis para o Botafogo-PB, pela Copa do Brasil, e vitória contra o Maricá, na Série D, sofremos apenas um tento. Em 9 partidas (56% das partidas no ano), a defesa foi vazada pelos adversários pelo menos duas vezes.

Outro dado que liga o sinal de alerta: nas 16 partidas do ano, a equipe não conseguiu virar nenhum resultado. As três vitórias conquistadas, contra Botafogo, Inter e Maricá, a Portuguesa sempre saiu em vantagem. A equipe não conseguiu virar nenhum resultado. Essas análises superficiais, que não levam em consideração a forma como sofremos gols, também não materializa a nossa incapacidade para defender ou criar perigo em bolas paradas. Os problemas são muito mais profundos e uma reflexão é necessária.

Logo após a assinatura da SAF, a promessa era de um heavy metal, um estilo à la Klopp. Um padrão tático intenso, vertical (um futebol que busca ganhar espaço no campo adversário e chegar mais rápido ao gol) e que pressionasse os adversários. Na prática, o treinador apresentou apenas um tiki-taka previsível, lento e sem variação. Muito toque lateral, um time estatíco e uma defesa completamente vulnerável.

Tenho compreensão que nossas análises passionais são presas a uma exigência imediatista por resultado. Também tenho consciência que a implementação de uma filosofia complexa não é fácil. Porém, a maior preocupação é a falta de evolução.

Diferentemente do Paulistão, competição que claramente a Portuguesa jogaria para se manter, para a série D do Brasileiro, nossa ambições são maiores. Há o peso de um favoritismo criado por nós mesmos, pela nossa história, pelo peso da nossa camisa e pela transformação da SAF, que injetou dinheiro e deu estrutura.

A torcida já parece refletir sobre o momento atual, enxerga diversos pontos de alertas que foram ignorados. Jogo após jogo, essa mesma torcida está vendo os velhos problemas baterem na nossa porta. Resta saber se a diretoria da SAF enxerga da mesma forma. Bancarão o treinador até quando?

Por outro lado, à beira do gramado, o dono da casamata sequer demonstra um esboço de mudança. Nem me refiro à péssima coletiva. Mais uma vez, perdendo a linha contra o jornalista Arthur Marin, por uma simples pergunta sobre o nó tático que levou. Cauan, um acadêmico estudioso com um currículo escolar brilhante, levou um baile de um treinador considerado ultrapassado, que optou por fazer um feijão com arroz caseiro, sem grandes temperos e inovações.

Não consigo fechar um veredito se devemos ou não mudar de treinador, ainda estou assustado com o baque sofrido. Sempre me preocupa a próxima escolha. A sucessão sempre pode ser pior, aliás, geralmente é pior. Principalmente quando agimos na base da emoção. A vinda da SAF era justamente para acabar com esse ponto, decisões tomadas no calor do jogo.

Esperamos que essa semana Alex Bourgeois e todo seu board (palavra da moda entre Faria Limers e Itainers) reflita se o elenco montado realmente faz sentido para aquilo que seu treinador tem entregado.

Esperamos que Cauan trabalhe a semana toda construindo uma mudança tática, técnica e psicológica. Que a semana cheia de trabalho diminua a arrogância da convicção daquilo que não funciona. Afinal, um treinador jovem e promissor, que só passou por dois clubes na carreira e tem mais empates que qualquer outra coisa, não pode chegar em coletiva cheio de empáfia, má vontade e ironia.

* Tiago Cabral, 33 anos, privilegiado por ter visto a última era de ouro da Portuguesa. Súdito de Capitão, cover fracassado de Clemer e o maior anticandinho do Pari. Corneteiro profissional com análises totalmente ácidas quando se trata da Lusa.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do NETLUSA


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