Maurício Capela: Portuguesa e o mito do planejamento

Às portas da Série A2, a Lusa acreditou que tivesse se preparado para um ano de reconstrução, mas o que se desenha é o mais puro sentimento de derrota

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Foto: Ronaldo Barreto/NETLUSA

Eu gostaria de começar essa coluna com os dizeres: “nos salvamos”. Mas não, não será isso que você irá ler daqui por diante. Em que pese a minha crença de que “a Série A2 é o meu caminho, seja com vinho ou sem vinho”, como canta a torcida rubro-verde, a ressaca desse “porre” de reestruturação será dura no Canindé. A Lusa, é verdade, não caiu ainda. Mas psicologicamente está comprometida. Diria derrotada.

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Para entender o que se passa pelos lados daquele pedaço da cidade de São Paulo, é preciso uma boa dose de desprendimento. Boa! E admitir logo de cara que planejamento nunca foi a marca da centenária Portuguesa. Mesmo nas campanhas mais fantásticas de sua história, tudo ali aconteceu meio ao acaso, meio na sorte, meio com algum grau de intuição. Portanto, em sua reestruturação, não seria diferente. E é aí que reside o primeiro erro: acreditar na palavra planejamento sem olhar se os pilares da prática, de fato, foram feitos. Se estão ali.

Talvez, para ser absolutamente honesto, planejamento mesmo somente existiu na história do clube quando da construção de seu invejável patrimônio, algo que ainda mantém o desgastado verniz de grandeza. Nem mesmo a constituição de sua torcida foi obra de algum pensamento.

Ela ganhou adeptos pela natural identificação que os patrícios tinham para com as cores e a Cruz de Avis. Muito embora a segunda e a terceira geração tenham desenvolvido um amor sem igual por esse clube. Algo que tem sido o pilar de sustentação da Portuguesa nesses inacreditáveis, duros e doloridos anos em que ela está mergulhada nesse poço de tristeza e de ocaso.

Além disso, essa coluna não vai se ater ao que tem acontecido em campo. Porque nem vale a pena. Eu sou de um tempo em que era inimaginável a Internacional de Limeira vencer a Portuguesa no Canindé. E a Ferroviária arrancar um empate, quando na verdade merecia ter ganho o confronto. Sou de uma geração na qual sonhávamos com a Lusa disputando títulos das principais divisões. E o que a gente assiste hoje é de um sofrimento inacreditável.

É dolorido dizer, mas o planejamento feito, porque houve um, em 2023 não condiz com as pretensões desenhadas para esse ano. Ok, ninguém imaginava que a Lusa se classificaria para as finais do campeonato. Mas disputar ridiculamente a rabeira do certame somente mostra que faltou muito nessa caminhada. Um tanto mesmo. E não sei se teremos forças para começar de novo.

A tendência nessas horas é malhar a diretoria. Mas também isso soa pobre, prosaico, simplório. Porque a Portuguesa não vive, ela sobrevive há pelo menos duas décadas. Mesmo que ela tenha atualmente uma folha salarial equivalente a do Guarani, Internacional de Limeira, São Bento e por aí vai, não deve ter sido fácil trazer jogadores. E o motivo é surrado: ela não tem calendário nacional. Há algo concreto: não há continuidade no ano da Lusa. E isso qualquer empresário iniciante sabe que, de cara, não é um bom negócio, deixar seu jogador ali.

Certamente, virão as ponderações, do tipo: camisa pesa? Pesa. Tradição conta? Conta. Salários em dia são fundamentais? Na verdade, é obrigação. Mas não basta no mundo da bola. O futebol de hoje é entretenimento e ele se comporta como tal. Quem joga o Paulista da primeira divisão, quer continuar no mínimo na Série B do Brasileiro para alcançar a Série A e, enfim, a Europa ocidental (terminologia que revela a idade, mas necessária para colocar os pingos nos “is”).

Olhando por esse funil, a Lusa está fora. Ela é um outsider da bola. Um franco-atirador à espera de uma revolução interna. E isso não vem e será muito difícil acontecer pelas razões intrínsecas ao DNA rubro-verde. Sua torcida, que é majoritariamente de classe média, é patrimonialista. Repito. É patrimonialista. E isso se reflete de várias maneiras, na Sociedade Anônima do Futebol (SAF), no programa de Sócio Torcedor, entre outros.

Aqui, vai um parêntesis. O programa de sócio torcedor não decola no clube, penso, porque procura repetir as formulações de outras agremiações. E elas não nos servem. Porque não contemplam o sentido de “ter”, de “dono”. E enquanto essa equação não for acondicionada, duvido muito que tenhamos uma explosão de adesões. Mas posso estar redondamente errado, afinal, aqui estou construindo uma ilação, que se mostra correta hoje, mas não necessariamente amanhã.

Mas voltando… Há caminhos? Alguns. E eu posso chutar uma dezena deles nessa coluna, mas estaria ratificando o ponto crítico dessa pensata: a crença de que existia um planejamento. Trocando em miúdos, achismos não levam a nada, assim como rompantes e acessos de raiva.  

Portanto, caro leitor, a Portuguesa não vai acabar com o rebaixamento. Não vai. Mas vai perder mais uma camada do combalido verniz de grandeza. A Portuguesa também não vai se apequenar, porque sua torcida, especialmente essa garotada não vai deixar que isso ocorra.

Agora, se ela quiser galgar um processo inequívoco de recuperação, vai precisar ser mais diligente, prestar atenção nos detalhes, aplicar o bom senso e chutar qualquer ego para fora do estádio. Porque esse rebaixamento vai machucar muito, mais do que os outros. Pelo simples motivo de que depois de praticamente duas décadas hibernando no limbo, voltamos a sonhar na recuperação do nosso clube. E o que teremos em março, será o pesadelo da queda. E arrisco dizer, ainda que ela se salve, o gosto é da amarga derrota.

* Maurício Capela é jornalista há 28 anos. Comentarista, já trabalhou em diversos veículos, como RedeTV!, 105 FM, Tropical FM, Veja, Valor, Gazeta Mercantil.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do NETLUSA


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LUSITANO
LUSITANO
1 ano atrás

E desde quando é possível ter algum planejamento com o traíra ACC de presidente e o TC de gerente???? Só podia dar nisso: novo rebaixamento!!!!!!

ACC: FDP!!! VTNC!!!

jose figueiredo amaral
jose figueiredo amaral
1 ano atrás

NÃO VAMOS CAIR

Renato
Renato
1 ano atrás
Responder para  jose figueiredo amaral

Também acho que não vai cair, “JÁ CAIU “

jose figueiredo amaral
jose figueiredo amaral
1 ano atrás
Responder para  Renato

O campeonato ainda não terminou, muitos falava que iriamos tomar uma bordoada em Brasilia oq aconteceu?

Paulo Garcia
Paulo Garcia
1 ano atrás

“… somente existiu na história do clube quando da construção de seu invejável patrimônio, algo que ainda mantém o desgastado verniz …” Como invejável patrimônio? O estádio caindo aos pedaços e o excelente parque aquático foi aterrado pelo AB, como se ele fosse dono de todo o patrimônio do clube e ninguém fez nada. Imaginem que sou o síndico do meu prédio e resolvo aterrar a piscina para colocar uma feirinha no local. Sou retirado do prédio algemado e no chiqueirinho do camburão! Mas o AB foi morar nos “states” e a Portuguesa ficou sem seu patrimônio e, repito, ninguém fez nada, portanto, merece estar nessa situação.

Marcos Vizinho
Marcos Vizinho
1 ano atrás
Responder para  Paulo Garcia

Só milagre mas como nós nunca tivemos milagre então 2024 teremos o nosso lugar de novo e se bobear vai para a 3 em 2025 porque quando cai não para de cair time fraco diretoria TB e todos que passado por la

Eduardo Pires
Eduardo Pires
1 ano atrás

Segundo as pesquisas 7 ou 8 anos atrás nossa torcida era de + – 600.000, hoje não deve passar dos 50.000 e continuando com essas administrações desastrosas em 2 ou 3 anos não vamos passar de 5.000 infelizmente.

Ivan
Ivan
1 ano atrás
Responder para  Eduardo Pires

Com certeza

Mário
Mário
1 ano atrás

A Lusa nunca teve planejamento para nada. Basta olhar para o invejável patrimônio (antes de ficar em ruínas) e ver que sempre fizemos puxadinhos. Vejamos:o estádio em cada anel tem angulação diferente, as escadas das cadeiras vermelhas são para motivar piada de português. Gastou toneladas de cimento pra fazer uma arquibancada pra piscina que nunca serviu pra nada; quando se pensou no museu, a dúvida era onde o instalaria e o colocaram no lugar mais longe do público; a sauna; a cadeia; a sala de azulejo, a entrada e a numerada de visitante e o que dizer daquelas escadas com degraus que não cabe o pé de quem calça 43, o ginásio de hóquei, o parquinho, as churrasqueiras… enfim, tudo sempre foi um puxadinho. Até OTD (que foi o maior) nunca planejou nada, comprava de baciada e administrava nos rompantes. O futebol nunca segurou seus craques. Djalma Santos recebeu passe livre por ser velho e jogou mais 13 anos e duas Copas. Julinho, Ivair não queriam sair e saíram com ele. Zé Maria, Leivinha, Enéias, Dener… todos sempre quiseram sair porque sabiam que ali nunca ganhariam nada porque NUNCA teve planejamento. Só ganhamos quando a manteiga ganhou da força de gravidade, ou seja, Deus estava de férias!

Paulo Garcia
Paulo Garcia
1 ano atrás
Responder para  Mário

Uma bela resenha e uma bela reflexão sobre a história da Portuguesa. Realmente não há como essa entidade esportiva (clube e time) dar certo. São mais de 100 anos de desmandos… Melhor fechar as portas.

J. Pereira L. Leal
J. Pereira L. Leal
1 ano atrás
Responder para  Mário

Mário, tua resenha complementar fortalece a do Maurício Capela.
Nossa origem sentimental mais nos aproxima quando há raiva, afastando-nos quando os ventos do planejamento estratégico se aproximam.

Será inevitável, mas gostaria que a torcida não optasse pelo caminho “natural” de crucificar o beato Castanheira e o mercurial TC. Melhor seria realmente organizar a partir daqui, independentemente do calendário. Mas…

Se levamos 20 anos para chegar aqui, nada indica que levaremos outros tantos para voltar ao que éramos em 1996.

Geraldo de Moura Neto
Geraldo de Moura Neto
1 ano atrás

Não da pra dizer que já caiu por que o ituano esta fazendo de tudo para ajudar a Lusa…

Joaquim
Joaquim
1 ano atrás

Resumindo o que o Mario descreveu: A PORTUGUESA é uma merda. Estou de acordo.

jose figueiredo amaral
jose figueiredo amaral
1 ano atrás
Responder para  Joaquim

Então quem torce para a PORTUGUESA oq é? o sr é um deles

RODOLFO VICENTE TEIXEIRA
RODOLFO VICENTE TEIXEIRA
1 ano atrás

E quanto sofrimento Maurício parece que vivo um pesadelo dia a dia, a Portuguesa chegou em um nível paralelo a várzea, na verdade alguns de nossos atletas acho que n na várzea atuam, só acho, é triste porém compreensíveis pelas gestões passadas, que essa nova faça a diferença e conquiste torcedores, VAI LUSA PÔ!

Alberto Lázaro Jr
Alberto Lázaro Jr
1 ano atrás

Também não acho legal falar que já caiu !!!! Mesmo porque além do apito em Itu, Diadema e Campinas operar a Portuguesa, o time ganhou do Braga, time de série A, e empatou com o poderoso Timão ok, tem que ficar na A, e temos que cobrar isto, o Castanheira tem que se mexer fazer algo, e ele sabe o que deve ser feito, A2 De novo jamais.

Laercio
Laercio
1 ano atrás

Time sem raça, diretoria incompetente, rumo A2, sufoco. Já joguei a toalha.

Laercio
Laercio
1 ano atrás

Ano passado fui a todos os jogos, todos mesmo, agora contra ferroviária foi o pingo d’água, não ganhar deles vai ganhar de quem? Daniel Costa andando em campo parece morto, Paraizo não domina uma bola, aí fica difícil.

Novaes Lusa sempre!
Novaes Lusa sempre!
1 ano atrás

Apesar da desgraça de resultados, amamos esse clube. Não creio no fim e muito menos me vejo trocar de clube! Inadmissível! Portanto , nos resta lutar sempre para que possamos sair desse poço de merd@. Vamos ficar na A1.