Nesta segunda-feira (28), estreia a nova versão da novela Pantanal, clássico da Manchete, desta vez na Globo. A data escolhida praticamente coincide com o aniversário de 32 anos da primeira exibição original, em 27 de março de 1990. Foi também num 27 de março (mas de 1997) que chegou ao fim um remake menos lembrado, mas muito mais importante quando o assunto é Portuguesa de Desportos: Anjo Mau.
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Na trama, exibida às seis da tarde, o ator Sérgio Viotti vivia Américo Abreu, português dono de uma mercearia que contracenava principalmente com a filha, Marilu (Mila Moreira), seu genro, Ciro (Raul Gazola), e a neta, Lígia (Lavínia Vlasak). Como orgulhoso imigrante, torcia ferrenhamente para a Lusa.
Em um dos primeiros capítulos, surgia em frente a uma TV passando o jogo. “Vai, vai, vai… Gol! Gol da Portuguesa!”, vibra, antes de destacar o placar de 3 a 0. No outro cômodo, o genro questiona a demora para a comida ser servida: “Estamos esperando o que?”. “Que acabe o jogo da Portuguesa, meu amor. Antes disso, meu pai não vai vir jantar. Isso se conseguir comer alguma coisa, porque está lá, se enchendo de tremoços e cerveja”, respondia Marilu. Há representação melhor de um lusitano?
O simpático torcedor foi tema de uma reportagem da Folha de S. Paulo em outubro daquele ano, intitulada “Novela legitima ‘arrancada’ da Lusa”. Segundo consta, a ideia surgiu da própria autora, Maria Adelaide Amaral, nascida em Portugal: “Não há uma razão de ordem objetiva. O personagem é português. Com ele, estamos homenageando toda a comunidade”.
O então vice de marketing da Rubro-Verde, Orlando de Barros, opinava: “A novela reforça a ideia de que temos um produto bom. A autora não colocaria no enredo um personagem desagregador”.
Àquela época, a Lusa estava em alta. O time havia sido vice-campeão brasileiro meses antes e era visto com simpatia por boa parte das torcidas do Brasil. Vinha também de ótimas campanhas na 1ª fase do Paulistão em 1995 e 1996, e faria sua estreia num torneio da Conmebol.
Na semana de estreia de “Anjo Mau”, por exemplo, o time brigava para avançar de fase no paulistão – vinha na 2ª posição do Grupo A do Paulistão, com 19 pontos, 28 gols marcados e 19 sofridos em 11 jogos. Tinha o segundo melhor ataque do torneio, atrás apenas do Palmeiras, que tinha 25 pontos e 34 gols feitos. Em nossa cola, o Santos, com os mesmos 19 pontos, mas saldo menor. No fim das contas, a Lusa acabou ficando de fora por pouco, na 3ª colocação do grupo (avançavam dois) e na 5ª no geral.
A torcida ainda não sabia, mas os bons resultados ainda perdurariam mais algum tempo. Em 1997, mesmo, a Lusa chegou a liderar com folga o Brasileirão. Na 15ª rodada, tínhamos 36 pontos, cinco a mais que o Inter (que tinha um jogo a mais), segundo colocado. Em relação a quem vinha na sequência, mais vantagem ainda: nove pontos à frente do Galo e 10 à frente do Vasco (que seria o futuro campeão). A vantagem, porém, derreteu com o tempo. A Lusa ainda passou de fase, mas não fez grande coisa.
No ano seguinte viriam mais destaques. Semifinalista do Paulistão (para muitos, seria finalista sem o Castrilli) e do Brasileirão, com aquela derrota para o Cruzeiro no Canindé lotado. Ainda havia tempo para a contratação de Zagallo, então vice-campeão vigente da Copa do Mundo, para 1999. Vamos parar por aí porque a ideia deste texto é trazer lembranças boas.
Viotti tinha 70 anos à época em que viveu o lusitano Américo Abreu. Apesar de ser filho de um corintiano, dizia não torcer para ninguém. Mesmo assim, destacava: “A Lusa é um time familiar. De repente, ganhou o Brasil”. Presença frequente em novelas dos anos 80 e 90, atuou até os últimos anos de sua vida, e morreu em 26 de julho de 2009, aos 82.
Futebol + novela
A mistura entre futebol e novela é comum no Brasil, como em Suave Veneno (1999), em que Rodrigo Faro deu vida a Renildo, um atleta do Flamengo, mesmo time pelo qual jogava Duda, de Irmãos Coragem, interpretado por Cláudio Marzo na versão de 1970 e Marcos Winter na de 1995. Em Vereda Tropical (1984), Nuno Leal Maia era Bertazzo, jogador que chegou a fazer um teste no Santos ao lado de Serginho Chulapa.
Atualmente, outras equipes tem espaço na dramaturgia da Globo. Diversas cenas de Quanto Mais Vida, Melhor! foram gravadas nas instalações do América-RJ, time pelo qual atua Nenê (Vladimir Brichta), um dos protagonistas da novela das sete. Já no horário nobre, os jogos do Botafogo apareceram diversas vezes em Um Lugar Ao Sol, por ser o time do coração do protagonista Renato (Cauã Reymond). Seria legal se algum autor voltasse a lembrar da Lusa em uma novela futura, não acham?
Para encerrar, uma curiosidade que os lusitanos mais noveleiros devem se recordar: na cultuada novela Avenida Brasil, exibida entre março e outubro de 2012, há uma pequena citação à Lusa. O personagem Leleco (Marcos Caruso) comenta em uma cena sobre a “final” da Série B entre Portuguesa e Náutico. A gente sabe que foi em pontos corridos, mas não deixa de ser uma lembrança bacana.
* André Carlos Zorzi é jornalista, autor de “Para Nós És Sempre O Time Campeão – A Portuguesa de 1996” e coautor de “Lusa: 100 Anos de Amor e Luta”.
Espero ter boas lembranças em breve, o momento de comemorar tem que continuar, rezo e torço por isso, VAI LUSA PÔ!
A Portuguesa ainda está melhor do que o America-RJ:
“Diversas cenas de Quanto Mais Vida, Melhor! foram gravadas nas instalações do América-RJ”
Pois saibam que as instalações do America-RJ acabaram| Finished, c’est fini, tudo demolido!
O clube vendeu a sede para uma construtora, que prometeu fazer a nova sede no topo de um shopping. Até agora nada. Uma pena a destruição dos clubes tradicionais, a maioria por incompetência dos seus próprios dirigentes.
Lembro desse personagem, Seu Américo!!