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Presidente diz que Lusa nunca vai morrer e quer organização na base

Antonio Carlos Castanheira fala com carinho da equipe campeã paulista de 1973 e pede que credores fiquem do lado do clube

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Foto: Ronaldo Barreto/NETLUSA

O presidente da Portuguesa, Antonio Carlos Castanheira, deu uma longa entrevista publicada pela ESPN nesta quinta-feira (30). O mandatário falou sobre seu amor ao clube, as melhorias que vem fazendo, as categorias de base, entre outros temas.

“A Portuguesa nunca vai morrer. Pode colocar o pior presidente da história, o pior dirigente. E ela nunca vai morrer. Porque a Portuguesa ainda é paixão. Tem uma comunidade intensa. Sempre vai aparecer um que vai tomar à frente por essa comunidade, por essa paixão, por conta da camisa e do peso. A Portuguesa tem uma comunidade intensa. Tem uma história. Todos gostam da Portuguesa. Ela é patrimônio de São Paulo e do Brasil. Ela pode capengar, pode se arrestar, mas vai levantar, sacudir a poeira e continuar. Não quero ser pretensioso e dizer que vai ser agora na minha gestão. Vou fazer de tudo para plantar essa semente”, contou.

Segundo o dirigente, esse primeiro mês de mandato serviu para buscar recursos. “Fomos em busca de patrocínio, de parceria, pagamos adiantado os salários. Os parceiros já estão vindo para ajudar. Temos de fazer o acordo trabalhista. Os credores vão ter de entender que eles têm de estar ao lado da Portuguesa para deixar ela respirar, sacudir a poeira, dar a volta por cima e pagar todo mundo”, apontou.

Castanheira ainda criticou a terceirização das categorias de base: “Sinceramente, não entendi o que foi feito no período. Sentei em apenas uma reunião. Estava terceirizada. Era uma empresa que estava trabalhando. Eu entendo que a Portuguesa não pode fazer isso. Ela tem de ter o domínio da base dela. Podemos ter parceiros, mas tem de ser compartilhado. A Portuguesa não pode deixar a base nas mãos de terceiros e só olhar o futebol profissional. A história do clube está na formação de jogadores. Vamos deixar a base mais organizada”, avaliou.


Confira a entrevista na íntegra:

ESPN – De onde vem seu elo com a Portuguesa?

ANTONIO CARLOS CASTANHEIRA – Meu pai! Ele me ensinou a amar e a torcer pela Portuguesa. Eram 11 irmãos Castanheira. Todos Portuguesa. Ainda tenho vivo meu tio Toninho, meu tio Alfredo… A referência foram meus familiares, meus tios e meu pai. Nasci aqui dentro. Fui sócio aos seis anos de idade. Minha referência é minha família. Ele foi diretor social na época do doutor Oswaldo Teixeira Duarte e se empenhou muito. Era o fiel escudeiro do doutor Oswaldo. Minha família toda frequentou o Canindé, desde a época das danças, do folclore e das piscinas. A Portuguesa era gigante, socialmente falando. Chegou a ter 90 mil sócios. Só o Juventus, com 110 mil, tinha mais. Então, isso aqui fervilhava e era muito familiar. Aqui a gente conquistou amigos, conquistou parentes. Eram torcedores que acabaram virando familiares. A minha vida está aqui dentro.

ESPN – Qual referência tem da Portuguesa e que o inspira?

ACC – Os times fortes da Portuguesa foram na década de 60, mas a minha década foi a de 70. O time que me marcou foi campeão paulista em 1973. Depois vieram grandes times, em 1975, em 1985… parece até que foi combinado, de dez em dez anos. Depois, em 96, fomos vice-campeões brasileiros com outro timaço. A Portuguesa teve nessas três décadas três grandes times que mereciam ser campeões. Foram os três times que me marcaram, mais aquele de 73 foi mais especial. Na época, a Portuguesa chegou a dividir o anel superior do Morumbi com a torcida do Santos. O tamanho da torcida da Portuguesa era grande demais.

ESPN – Imaginava naquela época um dia estar sentado na cadeira da presidência para salvar o clube?

ACC – Nunca! E te digo como é feliz, apesar dos problemas, estar aqui. É felicidade pura você estar à frente, liderando o time do seu coração. Eu estou muito feliz. Vamos resolver, vamos para cima. Consultei esposa, filhos. Pessoas importantes dentro da Portuguesa. A decisão foi tomada quando eu senti que o problema da Portuguesa dá para ser resolvido. Quando eu notei que isso era uma situação concreta. Eu não tive dúvida de não virar as costas para a Portuguesa. A gente vai se entregar para o clube por três anos. Espero que realmente esse amor que eu tenho pela Portuguesa seja transformado em êxito e sucesso. 

ESPN – Já tem um diagnóstico dos problemas da Portuguesa?

ACC – Um diagnóstico foi feito, eu tenho entendimento do passivo da Portuguesa. Temos de fazer análise dos últimos balanços. Ainda não foi feito e ele tem de aprovado também. Nesses últimos 15 dias estamos finalizando esse diagnostico financeiro e jurídico para que a gente possa assentar e dar rumo, mas o principal fator é resgatar a credibilidade e o respeito. Já procurei fazer isso no começo da gestão. Fomos em busca de patrocínio, de parceria, pagamos adiantado os salários.

ESPN – Já encontrou parceiros?

ACC – Os parceiros já estão vindo para ajudar. Temos de fazer o acordo trabalhista. Os credores vão ter de entender que eles de têm estar ao lado da Portuguesa para deixar ela respirar, sacudir a poeira, dar a volta por cima e pagar todo mundo. Os credores têm de entender que a Portuguesa tem de continuar de pé. Tem de parar essa asfixia. Vamos fazer um trabalho para ter esse respiro. Eu que já vivi a Portuguesa no âmbito de marketing enxergo esse clube como um canhão. Em 2015, provamos isso. O projeto de patrocínio das padarias foi um sucesso. Fomos até a semifinal da Série B do Brasileiro com o Vila Nova, no Canindé, com 23 mil pessoas. Tem de voltar a acontecer.

ESPN – Qual é a maior barreira a ser derrubada?

ACC – O diagnóstico foi feito no âmbito técnico, jurídico e financeiro, mas eu te falo: é muito mais coração, muito mais apoio, muito mais as pessoas abraçarem a Portuguesa. Afinal isso aqui é uma associação. Vamos fazer e dar cara empresarial, mas a Portuguesa na essência é uma associação. Tem um rumo, mas precisa ser abraçada por todos.

ESPN – Também precisa resgatar a credibilidade e a honra ferida nos últimos anos por gestões que não foram responsáveis?

ACC – Vamos trabalhar. Continua essa herança, mas estamos trabalhando para resgatar a credibilidade e o respeito da Portuguesa. Até para que todos jogadores e funcionários falem: “Vou trabalhar na Portuguesa porque ela honra seus compromissos”. Tudo isso passa pelo acordo com os credores. Passa tudo pelo entendimento que os credores têm de ter de que a Portuguesa é séria. A Portuguesa quer resolver. Resolver dentro das condições dela para que ela respire.

ESPN – Pode falar da dívida atual? Existe uma estimativa de que a dívida trabalhista já passe de R$ 300 milhões?

ACC – Tem auditorias que têm de ser feitas. Não posso falar o passivo porque podem dizer que é de 2016, e tem balanço de 2017 e 2018 para auditar.

ESPN – Mas o passivo trabalhista é o principal?

ACC – Sim, é o trabalhista. Tem civil e fiscal. Mas o trabalhista é o negócio [para resolver]. Vai exigir energia maior. 

ESPN – E quais as medidas a curto prazo para serem tomadas?

ACC –  É a reorganização dos departamentos. Todos os departamentos, como marketing e comunicação, estavam sem comando. Essa reorganização foi imediata. Colocar pessoas competentes em cada setor. Criamos três áreas que não existiam, áreas importantes. Hoje tenho assessor do presidente, que é o Adilson Tavares, criei o departamento de tecnologia, que é o Ezequiel Nascimento Rocha, e criei o departamento de patrimônio para cuidar do CT e do Canindé, com o Artur Cabreira Gomes. 

ESPN – Quais os próximos passos?

ACC – Passa pela situação com os credores e o projeto de desenvolver a Arena. Regularizar a parte trabalhista, dos acordos, buscar um investidor, formatar que nível de empreendimento será feito, o investimento a fazer. E os próprios patrocínios. Futebol também. Futebol tem como fazer algo mais do que vem sendo feito. Você profissionalizando o futebol, as receitas vêm. O trabalho médio e a longo prazo passa por isso: profissionalização total do futebol, na implementação do projeto da arena e, fechando o tripé, a base da Portuguesa. A nossa base é muito forte porque a história da Portuguesa no futebol está ligada a formação na base.

ESPN – Não é ambicioso demais pensar numa Arena com tantos problemas? Qual o plano para colocar uma Arena de pé?

ACC – Tudo começa com acordo e negociações com os credores. Sem isso vamos continuar enxugando gelo e vai continuar essa mesmice. No âmbito do planeamento da arena, os primeiros 18 meses são de reestruturação financeira e jurídica. Então, paralelamente a tudo isso, tem de começar a executar. Dando tudo certo, resolvendo os problemas das penhoras, investidor para uma arena não vai faltar. Aí entraria o segundo passo, entre 18 e 24 meses, que corresponde a montagem dos equipamentos que vão fazer parte da arena. Vai se decidir a área hoteleira, centro de convenção. O que vai ser o anexo. Uma arena coberta, uma arena moderna para fazer eventos de shows. A Portuguesa pode ser a segunda arena de São Paulo para shows.

ESPN – O plano de negócio seria mais parecido com o do Palmeiras ou o do Corinthians?

ACC – Corinthians nada a ver. Mais com o Palmeiras. Mas tem alguns diferenciais que os estudos desses 18 meses vão dizer que nível de arena vamos ter. São duas situações. Uma de repaginação do Canindé. Outro de total reconstrução.

ESPN – Não é um projeto para ser entregue agora.

ACC – Não vai ficar pronto em três anos. São quatro ou cinco anos de obra. Imagino plantar a organização e a semente da construção. Alguém vai colher o fruto.

ESPN – Não foi só a base que sofreu nesses últimos sete anos. O clube também. Já não existe nem mais o parque aquático…

ACC – Infelizmente, as piscinas não existem mais e o areião também. O clube social está limitado as festas e aos eventos da Portuguesa. Tem ainda uma área desportiva, que é o tênis e o hóquei, onde está o ginásio. A Portuguesa caiu muito nessa parte social, mas está acontecendo em quase todos os clubes. O desenvolvimento dessa área, que está com o Marcos Pires, é retornar com as festas tradicionais da Portuguesa, que já não existem mais. Vamos atrair as pessoas de volta para cá. As piscinas, o assunto que todo mundo acaba tocando, todos os clubes já não estão mais investindo. Piscina quase todo mundo tem no condomínio. O que importa no clube social é o relacionamento. As pessoas têm de voltar para a Portuguesa. Tem muita gente que não pisa mais na Portuguesa. O maestro João Carlos Martins, que é o embaixador do nosso centenário, já não pisava aqui há quatro anos. Foi um privilégio quando ele aceitou o convite e voltou a frequentar o Canindé.

ESPN – Diante de todo esse cenário devastador, o que mais chocou o senhor quando assumiu o comando e tomou ciência dos problemas?

ACC – O abandono. O abandono total, principalmente das pessoas. Não vou nem falar da estrutura porque a gente está aos poucos tentando melhorar. Mas o abandono de sentimento e… [pausa emocionada]. Quando as pessoas falaram “Não ponho mais o pé na Portuguesa, não volto mais para a Portuguesa, não quero saber da Portuguesa… [nova pausa]. Isso dói demais. Sei que falam da boca pra fora, mas dói. Eu nunca falei isso, mas dói.

ESPN – A Arena não será finalizada até o fim do seu mandato. Então, o que te deixaria com o sentimento de missão cumprida?

ACC – O que vai dar um “Up” no centenário é subir [para a A-1]. Não precisa nem ser campeão. É subir. Se subir, você vai ver uma Portuguesa totalmente diferente pela frente. Agora, entre subir no Paulista e entre fazer a coisa acontecer de forma correta, ainda tem um espaço grande. A gente não pode jogar o peso dessa responsabilidade no treinador, nos jogadores e no executivo de futebol. A responsabilidade é de todos. Da diretoria, de não deixar faltar nada, da torcida, que tem de abraçar, e da comunidade, que tem de voltar. Tem de estar aqui. A responsabilidade desse hiato entre subir e depois decolar, precisa de todo esse conjunto que eu falei.

ESPN – Resumidamente, começar a salvar a Portuguesa?

ACC – O compromisso é tratar a Portuguesa com muito carinho e muito amor. Vamos plantar a semente desses novos cem anos fortes. Cem anos de um clube gigante para que ela volte ao cenário nacional e nunca mais passe por uma situação como desses últimos anos.

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J. Alex. - Atibaia
4 anos atrás

muito boa sorte e competência para o nosso Presidente

Marcelo Fernandes
4 anos atrás

Só vai subir se contratar jogadores de qualidade tem vários jogadores reservas de clubes melhores que esses que estão aí jogadores experientes estavam sem clube Léo Moura Fernando pras jogadores de responsa várias ocasiões a portuguesa precisou e deu certo

Antonio Carlos Ferreira Lima
4 anos atrás

Castanheira torço para que sua Administração consiga ser melhor do que as outras, onde ninguem entendia de nada, ou melhor só se preocupavam com seu umbigo. Sugiro que vc como Presidente olhe em primeiro lugar para o Futebol, pois a Lusa precisa subir, voltar ao cenário. Precisa urgente contratar alguns bons jogadores para esta serie A2. O que vemos hoje é um bando de pernetas, assim a Lusa continuará na mesma. Aproveite rapido que ainda da tempo. Boa sorte.

Carlos Freitas
4 anos atrás

Sem futebol fica dificil…

Torcedor
4 anos atrás

Boa sorte presidente, mas vamos ser honestos, para existir como foi nos últimos 4 , 5 anos, eu como torcedor fanático que fui(hoje menos) é melhor fechar as portas.
Obs. Jamais quero que isso aconteça, é apenas uma consideração feita em cima de sua entrevista. “Nunca vai morrer(e sim sofrer) não é uma boa..

4 anos atrás

CASTANHEIRA PARA DE FALAR EM ARENA E SE PREOCUPA COM O FUTEBOL, NOSSO TIME É MUITO RUIM. PRECISAMOS URGENTE DE VOLANTE APOIADOR E MEIA ARMADOR. ATACANTES SÃO FRACOS COMO TAMBEM OS LATERAIS. CONTRATA URGENTE JOGADORES MAIS EXPERIENTES E DE QUALIDADE SE NÃO TERCEIRONA A VISTA!

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