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Maurício Capela: A novela SAF na Portuguesa

Faltam informações sobre geração de caixa futuro, valuation completo dos ativos do clube para entendermos se o modelo levado ao conselho é o ideal

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Foto: Ronaldo Barreto/NETLUSA

O projeto está à mesa. Melhor em uma comissão formada por membros do Conselho de Orientação e Fiscalização (COF) da Associação Portuguesa de Desportos. E agora chegou o momento de bater o martelo.

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Em meio a tantas informações sobre a Sociedade Anônima do Futebol (SAF) na Lusa, há quem levante a sobrancelha, olhe de soslaio e quem efusivamente comemore, alegando que esse é o caminho. Mas vamos lá… Vou desenferrujar meus 15 anos de jornalismo econômico e analisar, com a devida equidistância, o que temos por aí a respeito desse projeto na Portuguesa.

  • Ponto 1: O projeto SAF na Lusa conta com 3 investidores. A saber: Grupo Águia, SportsHub Brasil e Lion Capital, segundo apuração do competente jornalista Luiz Nascimento;
  • Ponto 2: O imobiliário, pelo que dá para entender, é a joia da coroa;
  • Ponto 3: Investimentos no futebol.

Não vou esticar muito a prosa em direção a outras inflexões, porque sinceramente esses três já dão um bom pano para a manga. Dito isso, vamos direto ao cerne: Qual é o valor da marca Portuguesa, o famoso “valuation”? Lembrando que valuation é um termo usado por bancos de investimento na hora de fazer a conta sobre quanto vale o ativo em negociação. É um número poderoso nesse tipo de operação.


Só que aqui, tenho ressalvas quanto ao entendimento. O valuation não se restringe à marca. Ele engloba todos os ativos pertencentes à negociação.

Então, penso que deveria contemplar a parte da área onde está sua sede social, porque há uma significativa parcela que pertence à Prefeitura de São Paulo e é cedida em regime de comodato, se nada foi alterado nesse caos em que o clube viveu nos últimos anos. Depois, há o Centro de Treinamento, outra área que também foi cedida pelo Governo do Estado de São Paulo, além de direitos federativos e econômicos de atletas. Esse é o grosso do ativo da Portuguesa, ou seja, alvo de avaliação por quem deseja arrematar a Lusa no molde SAF.

Feita ponderação, vamos ao que temos à mesa. Em recente entrevista ao podcast Futeboteco, o presidente do clube, Antonio Carlos Castanheira, indicou que o “valuation” da marca gira entre R$ 80 milhões e R$ 110 milhões. Ok. Dito isso, vamos tomar pelo copo mais cheinho: R$ 110 milhões.

Lado a lado desse valor está o tamanho da dívida da Lusa, que também no mesmo podcast, Castanheira apontou para algo ao redor de R$ 600 milhões. Ou seja, a dívida é seis vezes o valor da marca Portuguesa. Anote aí essa continha, ainda que incompleta, porque ela tem nome e chama-se múltiplos.

Se levar só isso em conta, posso afirmar tranquilamente: é um negócio ousado. Isso para usar um adjetivo cordato.

Só que antes de avançar, tem uma outra sigla que precisamos colocar na equação. Chama-se EBTDA. Oriunda da língua inglesa, ela quer dizer ganhos antes de taxas, depreciações e amortizações. Contabilmente pode ser encarada como lucro operacional ou, no popular, geração de caixa.

Ok, ok, então, qual é a geração de caixa da Lusa? Cri cri cri… Não sabemos. Alô, cofistas, alguém sabe?

Parece um monte de nome escrito de maneira bonita, não é? Mas a qualidade da proposta passa pelos múltiplos da operação e a capacidade atual e futura de geração de caixa. É isso que vai definir se alguém comprou água no deserto ou metal com cara de ouro.

Geralmente, uma empresa endividada é considerada boa, quando seu passivo não supera mais do que 3 vezes a geração de caixa, o EBTDA aí de cima. Passou disso, a turma da Faria Lima já levanta a sobrancelha. E se a companhia tiver ação em bolsa, tenha certeza de que ela será olhada ainda mais de perto por analistas do mercado financeiro.

É bem simples, torcida lusa. Dinheiro não tolera desaforo.

Agora, já dá para ao menos começarmos a entender algo desse intricado jogo SAF na Lusa. Com esse múltiplo de seis vezes em termos de endividamento e valuation da marca – levando em conta o que já mencionamos acima, a ausência do valuation total –, faz sentido que seja um consórcio (ponto 1) a comprar essa SAF. Sozinho, ninguém vai topar o risco.

Depois, está evidente que adquirir a Lusa somente se torna algo aceitável se a parte imobiliária (ponto 2 acima) virar o alicerce inicial, INICIAL, da operação. Caso contrário, é quase uma operação suicida.

Porque o futebol (ponto 3) entrará inicialmente como “custo” por mais que a narrativa seja “investimento”. Investimento vai ter mesmo é na reestruturação da área imobiliária para que a geração de caixa futura, desenhada pelo consórcio se concretize e consiga fechar a equação dívida e compra. Qual seja:  Arena para 20 mil pessoas, como se fala por aí, e espaço para eventos, entre outras ações patrimoniais.

Em suma, enquanto não soubermos como os ativos foram avaliados e qual é o múltiplo, não há como imaginarmos nada. Com a palavra, a comissão do COF.

* Maurício Capela é jornalista há 28 anos. Comentarista, já trabalhou em diversos veículos, como RedeTV!, 105 FM, Tropical FM, Veja, Valor, Gazeta Mercantil.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do NETLUSA

22 comentários

  1. COF ?
    NEM DEVERIA EXISTIR MAIS
    O QUE ELES FIZERAM DE 2013 PRA CÁ PRA MELHORAR A SITUACAO DA LUSA?
    SO SERVE PRA DA CARTEIRADA
    SO DA SAF ENTRAR E ACABAR COM ESSA PORTUGUESADA QUE MAMA NAS CUSTAS DA LUSA EU JA FICO FELIZ
    PIOR QUE ESTA NAO FICA !!!!!
    SEM DINHEIRO
    SEM DIVISAO
    JOGANDO CONTRA TIMES E CAMPEONATOS SEMI AMADORES

  2. Minha, opinião, vende o terreno, paga as dívidas, e fecha as portas ! Luiz Nascimento ??? …KKKKK então eu também quero…. Futebol se faz com dinheiro, muito dinheiro…e quem coloca o dinheiro é quem manda, fora isso, é fracasso garantido, uma SAF, com pessoas sem dinheiro suficiente, é melhor fechar as portas !

  3. Tem um enorme potencial, mas sempre foi muito mal gerenciado, constam históricas burradas e essa estrutura administrativa precisa ser modernizada. = Torço para que dê certo.

  4. Grupo Águia de Wagner Abraão, faz transporte turístico esportivo para grandes eventos, ligado a CBF,
    Sports Hub empresa de publicidade que pelo que apurei cuida de marketing em estádios de futebol, tem negócios com palmeiras, tem como diretor executivo, a pessoa de Gian Rinaldi, segundo linkedin.
    Lion capital não consegui decifrar.
    Vamos aguardar.

  5. Se for para construir uma arena 20.000 é melhor inventarmos ” o contrata torcida ” ! Ou se pensa grande ou se morre abraçado com notas de R$ 2,00 ! Ou se tem um grande investidor arriscando no tudo ou nada ou é melhor continuarmos com a barriga vazia ! Chega de abaixar a cabeça e dizer amém a qualquer possibilidade que venha a surgir ! Vão tentar o laboratório do capeta se o medo é sempre borrar as calças !

  6. Coisas que devemos levar em consideração:

    Claro, aqui está uma versão revisada do seu texto:

    1 – O terreno do Canindé possui uma parte pertencente à prefeitura, mas a Portuguesa também detém uma porção significativa da área, que é extremamente bem localizada e muito valorizada por diversos investidores.

    2 – O futebol pode ser uma estratégia relevante para os investidores. Além das categorias de base, a SAF (Sociedade Anônima do Futebol) firmará compromissos e metas com o time; não se trata simplesmente de “o empresário comprou e agora faz o que quiser”. Existem contratos e cláusulas de penalidade, e a venda não será de 100% da equipe (vender até 80% ainda é uma opção viável, considerando que muitos clubes brasileiros já venderam uma parte maior).

    3 – A Portuguesa enfrenta uma grande quantidade de dívidas e tem uma arrecadação quase inexistente. Precisamos adotar uma abordagem ousada com uma SAF para mudar essa situação. O acesso à Série D e a permanência na Série A1 mascaram um pouco as dificuldades reais enfrentadas pelo clube. Sem uma SAF, é apenas questão de tempo até que a Portuguesa perca o Canindé e siga o caminho de clubes como Juventus ou Nacional, ou até mesmo feche as portas.

  7. é complexo, o que dá medo é as decisoes serem tomadas por 4/5 integrantes do cof, são velhos comerciantes que nao sabem decifrar um balanço financeiro, nao devem ter nem formaçao superior, medo……..

    • Mas acredito que esses “velhos comerciantes portugueses “ que você menciona, apesar de não interpretatem balanços , a grande maioria deve estar bem de vida . Resumindo : não são burros para gerir seu próprio patrimônio . Assumindo que eles gostem da Lusa , basta usar a mesma lógica ! Ou estou falando besteira ?

    • Capela, ótimo texto e reflexão.
      Caso seja concretizada a SAF acredito que será o caminho para mudar muitas coisas/ visão/ trabalho em pró de nós torcedores e em nome do clube que amamos.
      Sendo uma boa negociação para ambos os lados será a forma de erguer um time e continuar a caminho da saída da UTI.
      Sabemos que sempre tudo é difícil com a nossa Portuguesa, mas sinto uma luz no fim do túnel.
      Vamos a luta! LUSA!!!LUSA!!!LUSA!!!

  8. O Brasil se tornou independente em 1822 por conta de um português ! A Portuguesa não se torna independente por conta de portugueses arcaicos e que só enxergam o próprio umbigo ! Canindé , um pedaço do Brasil ainda acorrentado pelas amarras lusitanas ! Isso pode durar anos , décadas ou até séculos , se não houver uma rebelião decente , na qual se espante todos aqueles que se dizem morrer de amores pelo clube ,mas que na verdade desejam seu fim …

  9. É a mesma coisa que pedir para um açougueiro fazer uma revascularização miocárdica num dado paciente ! Cada macaco no seu galho ! Torcedor é torcedor e administrador é administrador ! O nosso papel é apontar o que pode ser feito para melhorar o clube ! Ao administrador cabe executar e se o mesmo não faz isso para beneficiar , que entre outro que possa fazer ,mas que seja do ramo ! E se esse outro não existe no momento , a falência está realmente próxima !

  10. A lusa com estádio, mais bem localizado de São Paulo, é só construir um ou dois anéis…que será a melhor arena da capital com acesso a todos eventos. E local privilegiado a todos participantes.

  11. Sem dúvida, mas lançar uma arena com 20.000 é gozação e descrédito no crescimento da torcida lusitana … 60.000 pode trazer grandes eventos e alavancar os cofres do clube ! Para crescer de um lado é necessário crescer de outro !!!

  12. Qualquer coisa é melhor do que estamos agora. Infelizmente tem que pegar o que aparece, enquanto ainda aparecer algum louco pra por dinheiro bom em negócio ruim… é isso

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