Vice da Lusa fala sobre SAF e revela procura de vários interessados

O projeto da SAF (Sociedade Anônima do Futebol) segue em desenvolvimento e é um dos pontos mais aguardados pelo torcedor da Portuguesa. Diante disso, o vice-presidente de futebol do clube, Antônio Ribeiro, o Dunga, participou do NETLUSA Debate da última segunda-feira (16). Na participação, o dirigente falou sobre a criação do estatuto da SAF da Rubro-Verde e a implementação do modelo para a equipe profissional.

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Um dos pontos tocados foi sobre os possíveis interessados em se tornar acionistas, principalmente após notícias nos últimos meses em que grupos brasileiros, ingleses e até o acionista do Porto-POR, Antonio Oliveira, estariam interessados em adquirir uma porcentagem do futebol lusitano. Embora não revele nomes, o dirigente afirmou que várias pessoas já o procuraram mostrando vontade de fazer parte da SAF.

“Por ética, eu e a comissão não participamos de nenhuma negociação, nada. Não deveria ter negociação, pois não sabemos como será a nossa SAF e como será aprovado o nosso estatuto. Agora, que as pessoas procuram não tenha dúvida. O meu telefone toca, na semana, pelo menos três vezes. É uma pior que a outra. Você escuta umas coisas fora do comum. O que faço é passar para o Castanheira. Ele tem que receber esses caras, bater papo. Não vamos mentir dizendo que não tem ninguém interessado. Tem um monte de gente vindo atrás, mas vamos com parcimônia, vamos devagar. Assim que o conselho votar ‘será assim, com ações até 49%, vamos fazer uma comissão, conselho auditável, …’ mas isso será votado pelo conselho. Vamos votar como queremos e ai virão as propostas, mas tem ainda muita água em baixo dessa ponte. Não é da noite pro dia. Eu acho que pode acelerar a aprovação da SAF, mas o investidor, isso vai demorar, pois isso terá muita coisa”, afirmou.

Outro ponto citado pelo vice de futebol foi sobre as equipes de base e o futebol feminino não estarem presentes na SAF do Clube e como funcionaria a administração dessas equipes.

“Isso tem que estar dentro do estatuto, porquê: a Portuguesa vende o futebol profissional. A base continua no clube. Agora vamos falar do investidor. Ele entra lá: ‘ah beleza, eu vou investir no futebol, mas vocês chegam no sub20, fazem um belo de um jogador, que será vendido e não vai jogar no profissional?’ Isso é ruim para os dois: para a instituição Portuguesa de Desportos e a SAF. Então isso tem que estar no contrato. A Portuguesa tem que dar a prioridade para o jogador da base atuar no profissional. E dai vai passando o valor. Quantos por cento vai para a Portuguesa e pra SAF? A SAF vai ajudar a bancar o futebol de base? Isso tudo tem que estar no estatuto. Com relação ao futebol feminino, é obrigatório pela lei da SAF ter uma equipe de futebol feminino”, completou.

Confira alguns dos principais pontos da entrevista:

Início do projeto da SAF

“Em 2015 já tínhamos a intenção de uma Portuguesa profissional. Quando o Jorge (Manuel Marques) foi presidente da Portuguesa e o (Antonio Carlos) Castanheira o vice de marketing já havia essa ideia da separação entre o futebol do clube. Já existia a SAF fora do Brasil. Sabíamos que existia alguns projetos, só que isso não andava. E quando o Castanheira estava para sair como candidato a presidente ele bateu um papo comigo e falar dessa vontade dele de tornar a Portuguesa em uma SAF. Lá no começo, em 2019, a gente já sabia que tinha dois projetos de lei sobre a SAF que estavam no Senado e começamos a estudar. Montamos um grupo de estudos com alguns amigos torcedores da Portuguesa, todos (especialistas) em suas áreas. Um grupo multidisciplinar e a gente foi batendo este papo. Ele acabou ganhando a eleição e começamos a tocar. Veio a pandemia, a lei deu uma esfriada, mas continuamos estudando todos os casos. Temos muito mais casos que deram errado do que os que deram certo, no Brasil principalmente e fora do Brasil também. Por isso estamos tomando muito cuidado e analisando. Quando votaram a lei, ficamos ligado em quem seria o primeiro (clube) a fazer isso (virar SAF). Veio o Cruzeiro, Botafogo, Vasco está indo ai. Estamos acompanhando de perto e segurando para ver o que podemos tirar de bom destes três instituições que viraram SAF”.

Evitar problemas como no Belenenses-POR, Santa Clara-POR, Gama…

“Primeiro tem que ter paciência. A gente sabe que é urgente para a Portuguesa fazer uma SAF e ter investimento, mas eu acho que temos que ter muita paciência para não errar. A gente não pode errar. A Portuguesa é um clube que não pode errar. Muito provavelmente não terá volta se errarmos. É algo que está acontecendo e bem devagarzinho para poder acertar. E olhando o que aconteceu. Por exemplo, vamos falar do Belenenses, é um negócio absurdo. A própria SAF do Belenenses não pode jogar em seu estádio. É uma coisa que tem que ser prevista. Como vai ser isso? Vamos alugar o Canindé? É prioridade o Canindé para o futebol? Então isso tem que estar no papel, assinado, dentro da lei. Este é um exemplo. E não se precipitar. Por exemplo, o Gama eu sei bem pouco, mas foi precipitação. Eles pegaram um investidor qualquer, colocaram e é claro que vai dar problema. O cara promete, não cumpre e você vai ter problema. Isso já aconteceu com o Figueirense também, mesmo não sendo SAF, a gente pode falar disso. Tem várias situações no Brasil que aconteceu isso”.

Aprovação da SAF no Conselho Deliberativo

“Foi uma união de todos os poderes. Eu acho que o mais importante foi a transparência, desde o início. Quem vai fazer a SAF não é o presidente, não somos nós da comissão, mas sim o Conselho e a torcida da Portuguesa. Segundo: o comprometimento nosso de não vender mais de 49% de nossas ações. De jeito algum mexer no nosso nome, cores, símbolo, isso é primordial. Então o conselho e o associado receberam bem isso. E, por último, eles saberem que o que aprovamos agora é dar o andamento ao estatuto da SAF. Como vai ser a SAF, se vamos aceitar o investidor ou não é o Conselho e o associado da Lusa, via assembleia. Essa decisão não é da Portuguesa, da nossa comissão. Acho que por isso não estamos tendo problema ou divergência com o projeto da SAF”.

Lusa majoritária na SAF

“Pode afastar (possíveis investidores do Clube). Eu não tenho dúvida que vai até afastar. Agora a gente está em uma situação em que a Portuguesa não precisa de muito dinheiro agora. Estamos sem divisão e a nossa marca é muito forte. Vamos fazer o valor da marca Portuguesa. Ela é uma marca grande ainda. Estamos no Estado de São Paulo, em uma localização excelente, mas a Portuguesa não precisa vender hoje 49% das ações quando for fundada a SAF. Ela pode estar vendendo hoje 5% a 10%, ai depois subiu para a Série C (do Brasileirão), mais 5% a 10%, subiu para a Série B vender os 30%. O investidor que colocar o dinheiro na Portuguesa hoje, ele pode pensar que daqui a três anos pode ter lucrado cinco vezes mais com a marca. Então essa é a nossa garantia, pois a SAF dá a garantia jurídica para esta pessoa. Eu até concordo: ‘Ah o cara vai colocar dinheiro, mas não vai mandar’. A constituição da SAF, provavelmente terá um CEO e vai ter um Conselho, não de notáveis, mas de pessoas que conhecem do futebol. Gerir mesmo o futebol, ter um CEO. Então acho que o investidor vai ter voto. A gente tem que pensar que será como uma grande empresa. Ele vai ter direito a voto”

Empresa x Futebol

“A gente conversa muito entre nós sobre isso. E é por isso que falo sempre. Eu não posso estar lá (com cargo dentro da SAF da Lusa). Estou me usando como exemplo. Eu sou passional. Se tivesse um Fábio ali (alusão a situação do goleiro Fábio com o Cruzeiro) eu provavelmente, por gostar dele, iria segurá-lo. Quem não foi passional, foi o gestor do Cruzeiro que falou: ‘Fábio, não dá para você ganhar tudo o que ganha aqui’. Eu acho que ele tinha razão e o Cruzeiro está em primeiro lugar na Série B. Vamos falar da Portuguesa agora. O Toninho Cecílio (executivo de futebol) toma todas as decisões ali dentro da Portuguesa. É claro que ele informa ao presidente, me informa dentro do possível, mas as decisões dele não olham o lado passional. Ele olha: ‘Quanto vai custar pra Portuguesa?’ ‘O que a Portuguesa vai ter que desembolsar para isso?’ ‘Esse jogador disputa uma Série A1 ou Série A2?’ Então essa tomada de decisão, vou ser muito sincero para vocês, não pode ser passional, de alguém que seja torcedor da Portuguesa e nada mais além disso. Não estou falando que o CEO da Portuguesa, alguém que vai comandar a SAF do clube não seja torcedor, mas tem que ter competência. Eu, sinceramente, não vejo ninguém dentro do clube, torcedor ou abnegado que possa comandar a SAF da Lusa”

Levar o futebol para o CT

“A decisão de levar o futebol para o CT é do Castanheira. Essa ideia não é de agora. Ele está lá devagarzinho, está construindo a sede administrativo e acho importante isso. A Portuguesa está totalmente afastada do Canindé, daquele burburinho. Tem que ser profissional e isso tem que ser ligado com pessoas que trabalham no futebol. Tem que ter um lugar para a imprensa, vai abrir um treino para a torcida? Vai abrir, mas tem que conversar com o técnico, diretor. Vai abrir hoje ou não? Quem já frequentou o CT sabe. Tinha gente no muro assistindo ao jogo, comendo pastel ali no barzinho que tinha do lado esperando jogador sair. Essa decisão foi do Castanheira e achei acertadíssima”.

Assista à entrevista com Antonio Ribeiro no NETLUSA Debate: