Foto: Djalma Vassão/Agência Estado

Foi exatamente há 25 anos que Dener nos deixou. No dia 19 de abril de 1994, um acidente de carro na Lagoa Rodrigo de Freitas tirou a vida do então craque de 23 anos. Revelado pela Portuguesa, o jogador defendia o Vasco e voltava ao Rio de Janeiro após visitar a família em São Paulo.

Duas décadas e meia após a sua partida, ex-companheiros de Lusa relembram algumas peripécias de um dos melhores jogadores que o clube já revelou.

“Embora fosse um pouco mais franzino, ele tinha muitas coisas de Pelé. Fazia jogadas geniais, dribles, e estava sempre com o olho brilhando quando jogava futebol. Um jogador diferenciado, com quem a gente sabia que podia contar. Coloco o Dener entre os cinco melhores que vi jogar!”, disse Pepe, seu treinador em 1993, ao Lance!.

Dener iniciou a sua trajetória na Portuguesa ao lado de Tico e Sinval, e conquistou a Copa São Paulo de 1991. No entanto, o técnico Écio Pasca precisou dar um puxão de orelha no trio antes do sucesso.


“Nosso time era bom, mas a gente não se respeitava. Durante um treino, um queria tomar a bola do outro, mostrar que podia jogar melhor. Foi aí que chegou o (técnico) Écio Pasca e nos ajudou muito. Ele terminou o primeiro treino dele no clube depois de cinco minutos. No segundo, terminou depois de dez. O outro, depois de 15 minutos. E aí alertou: ‘enquanto vocês não se respeitarem, as coisas não vão acontecer’. É que a gente não tocava a bola um para o outro por pura imaturidade, porque era “fominha” mesmo”, revelou Sinval à reportagem.

A partir daí, os três se tornaram grandes amigos, a ponto de Dener ser padrinho da filha de Tico. Além disso, o ex-craque também ajudou Sinval fora das quatro linhas. “Graças a ele, eu comecei a namorar a minha esposa. A Tanize estava dando voltas na piscina da Portuguesa, e aí ele praticamente me ‘empurrou’ para cima dela (risos)”, relembrou.

A primeira oportunidade do atacante na equipe profissional foi em 1989, sob o comando de Antônio Lopes. O treinador conta como surgiu a chance.

“Era um dos primeiros dias que eu estava no clube. Fui abordado por um conselheiro chamado Mário Fofoca (pai do atual conselheiro Marcelo de Carvalho), que me me disse: ‘professor, tem um garoto da base que está perigando sair, porque se casou com uma menina, está em uma situação difícil, mas o moleque é muito bom’. Eu falei para mandar ele ir treinar, para a gente ver o garoto em um coletivo”, contou.

“Ele era um garoto magrinho, de pernas finas. Eu cheguei a desconfiar! Quando estava quase no final da atividade, lembrei dele e pedi para que entrasse. Na primeira bola, o Dener deu uma caneta no Vladimir, que era um jogador forte, difícil de passar. Depois deu um lençol em outro cara. Aí, não quis nem saber, né? Cheguei para o presidente e mandei segurar o Dener. Frisei que o clube tinha de dar um salário a ele, que era um jogador de qualidade e que tinha de conseguir condições para ajudar ele sustentar a família”, complementou.

Autor de golaços como contra o Santos e a Inter de Limeira, Dener era um garoto rebelde, segundo os seus ex-companheiros.

“Ele era um cara de muita rebeldia, né? Sumia e, de repente, voltava do nada… Mas o Écio (Pasca) já tinha começado a enquadrar um pouco ele e, depois, com o passar da maturidade, o Dener foi recebendo conselhos dos treinadores e de colegas nossos que eram veteranos. O Cristóvão, que jogava na Lusa na época, falava para ele: ‘e aí, saiu de noite ontem? Continua a sair, mas vai mais devagar, se diverte, mas de um jeito que não te atrapalhe…'”, recordou Sinval.

Bastante brincalhão durante os treinamentos, Dener tirava sarro até mesmo do volante Capitão, como relembrou Paulinho Kobayashi. “O Dener era um menino em todos os sentidos. Ele gostava de fazer todo tipo de brincadeiras com os colegas. Lembro que, como ele era muito habilidoso, ele gostava de tentar dar ‘caneta’ no Capitão, coisa que o Capitão não deixava de jeito nenhum (risos). Ele dizia: ‘vou dar uma caneta’, e ria, feito moleque mesmo”.

Capitão garantia que fazia de tudo para não deixar, mas… “Ah, eu não deixava mesmo ninguém me dar caneta não (risos). Mas ele era muito abusado. Então, por mais que eu tentasse, era difícil lutar. Só sei que fico muito feliz de nunca ter jogado contra ele. Passei conselhos, disse para ele se valorizar, em especial porque garoto como ele sempre é alvo de assédio, de más companhias”, afirmou.

Sumiço antes do jogo

Às vesperas da partida diante do Santos, que lhe rendeu um golaço driblando três adversários, Dener fugiu da concentração, porque, segundo os companheiros, ele vivia um impasse financeiro com o clube.

“Ele queria um aumento e também uma Mitsubshi. E a Portuguesa não dava. Aí, na véspera do jogo, o Dinei bate na porta do nosso quarto desesperado: ‘Cadê o cara? Cadê o cara?’. E nada dele. Um tempo depois, ele bate de novo. Na quinta vez, eu disse: ‘Dinei, você já veio e ele não está aqui, não adianta procurar'”, contou Tico. “O Dener estava na casa do Edinho, filho do Pelé. O seu (Luís) Iaúca, que era dirigente da Portuguesa, concordou com o aumento. Aí ele voltou para jogar”, complementou.

Pepe lembra como foi informado do retorno do craque. “Quando o seu Iaúca chegou, falou para mim: ‘Pepe, sabe quem está comigo aí no carro? O ‘Pretinho’! E ele está com vontade de jogar contra o Santos!'”.

“Ele jogava futebol com alegria. De quem quer dar uma caneta, um chapéu, mas sempre em busca do gol”, disse Paulinho Kobayashi, seu companheiro em 1993.

“Quando treinávamos no estádio vazio, ele imitava um coro de torcida lotada”, revelou Tico.

Hoje, 25 anos depois, Antônio Lopes não tem dúvidas: Dener seria superior a Neymar. “Junto de Romário e Edmundo foi um do três melhores atacantes que pude trabalhar. Essas arrancadas e dribles que o Neymar faz, ele [Dener] fazia com mais tranquilidade. Neymar perto dele é pinto”, disse ao programa Esporte Espetacular, da TV Globo.

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