Foto: Divulgação

Cartolas têm sempre uma saída estratégica quando pressionados por conta de maus resultados dentro de campo: “Não é a gente que chuta a bola no gol”. A despeito de ser um argumento raso, que não leva em conta o papel central do presidente no planejamento e gestão de um clube de futebol, que influem muito mais do que um pênalti perdido ou um frango do goleiro, vá lá: é possível dessa forma driblar a responsabilidade direta pelo insucesso. Dirigentes realmente não calçam chuteiras e ganham ou perdem pontos.

No caso da Portuguesa e sua derrocada inédita no futebol mundial, indo da série A para virar um time fora de série, não é bem assim. Nenhum torcedor tem dúvida que o que levou o clube do Canindé ao porão escuro do futebol brasileiro – sem disputar campeonatos nacionais – foi a bola de neve de administrações amadoras e obtusas, que encheram e esvaziaram ônibus com atletas e técnicos, com atrasos salariais recorrentes, desmandos de todo tipo, arrogância e ignorância, numa roleta maluca que, compilada, poderia virar um manual do que não se deve fazer em matéria de administração esportiva.

Mas o que mais choca é que nos sucessivos rebaixamentos houve sim responsabilidade objetiva e direta dos dirigentes da Lusa. Os presidentes e seus diretores fizeram muitos gols contra e influíram diretamente nos resultados finais.
A começar pelo infame Caso Hérverton, no Brasileiro da série A de 2013. Com a escalação irregular do meia-atacante, seja por incompetência ou má fé, a Portuguesa perdeu quatro pontos conquistados dentro de campo. Foi como se os gols de Gilberto contra o Corinthians (4 a 0), em Campo Grande, e de Lauro contra o Flamengo (1 a 1), em Brasília, não tivessem acontecido. Foi determinante e a Lusa foi rebaixada para a série B por um mísero ponto.

No ano seguinte, com a tresloucada saída de campo aos 20 minutos do primeiro tempo na estreia da série B, em Joinville, foi alcançada a proeza de começar um campeonato perdendo de 3 a 0 sem que Glédson tenha sido vazado. Mais importante que isso foi demonstrar que a Portuguesa não estava com a cabeça na competição. O desfecho foi a lanterna e a pior campanha do clube na era dos pontos corridos. O rebaixamento viria com o mesmo placar, em Itápolis, contra o Oeste, numa espécie de profecia auto-realizável.


A Portuguesa entrou em campo na série A-1 de 2015, mas não no seu campo. Não foi novidade a negligência administrativa que fez o time não atuar nenhuma vez sequer no Canindé naquele campeonato. Já tinha acontecido antes, sempre com consequências catastróficas para o desempenho. Quantos pontos poderiam ser conquistados e evitar o terceiro rebaixamento para a Segundona do Paulista? Nunca saberemos se seria possível somar mais três deles se as partidas fossem disputadas em casa, mas é razoável assumir que sim, ainda mais contra adversários com histórico de derrotas no Estádio Oswaldo Teixeira Duarte: Capivariano (1 a 2), Rio Claro (0 a 0), São Bento (2 a 2), Penapolense (1 a 1) e São Bernardo (0 a 0).

Você pode não lembrar, mas a trágica série C de 2015 começou com um jogo sem público. Tudo bem: os dirigentes da época podem compartilhar a responsabilidade com parte da torcida, já que estava sendo cumprida uma punição por causa de uma confusão no mata-mata anterior do torneio contra o Vila Nova. Outro fato que pode ter pesado no placar: a cartolagem do Canindé pediu para transferir um jogo que seria televisionado para todo o Brasil para uma segunda à tarde, sem testemunhas, sem calor, sem se importar. Em tempo, um empate contra o time do Rio de Janeiro não teria culminado com o rebaixamento da Lusa. O Macaé terminou apenas dois pontos na frente.

Já os portões fechados de uma rodada na série D de 2017 foram mortais e os responsáveis são indiscutíveis. Por conta da falta de renovação de um laudo, ou seja, os mesmos erros de planejamento e gestão, a Lusa enfrentou o Vila Nova-MG em casa sem contar com o apoio da torcida. O empate em 0 a 0 teve seu peso na vexatória eliminação na primeira fase. Com mais 2 pontos, a história certamente seria outra.

Cartola pode não fazer gol, mas perde jogo, pontos e vaga no Brasileiro.

Por Luís Alberto Nogueira

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