Foto: Leonardo Lourenço/GloboEsporte.com

O que fizeram com você, Portuguesa? O que fizeram com você? Lembro das primeiras vezes em que nos encontramos. Eu tinha cinco ou seis anos e vestia uma camisa sua que ia quase até aos joelhos.

VOCÊ JÁ VIU?
O que a história dirá de nós afinal?

Confesso que naquela época pouco me importava o que acontecia no gramado. Estava mais interessado, junto com outras crianças, em transformar copos plásticos vazios em bolas, correndo para cima e para baixo na geral atrás dos bancos de reservas do Canindé.


O tempo passou e começamos a ficar mais íntimos. Recorda-se de 1996? Vem na memória meu pai chorando em frente à televisão. E eu, na sabedoria dos meus oito anos de idade, disse para ele não se preocupar, que ano que vem estaríamos ali de novo.

E não é que quase voltamos? Em 97 ficamos no quadrangular semifinal. No ano seguinte, perdemos na semifinal para o Cruzeiro. Que saudade do Canindé naquele dia. Não cabia mais ninguém. Faltou pouco para voltarmos à final e acertarmos aquela conta pendente com o Corinthians. Sim, por causa do Castrilli. Mas deixa para lá. Temos outras coisas para lamentar.

Eu acho que foi ali aonde tudo desandou. Nessa ânsia de sempre bater na trave e não ser campeão, começaram a gastar muito, dinheiro que você não tinha. E o pior, sem saber gastá-lo direito.

Aí começou uma bola de neve. Dívidas tributárias e uma série de bombas trabalhistas. Não é difícil entender porque hoje você deve mais de R$200 milhões. O complicado é aceitar um valor desses.

Outro problema é o que tempo passou, o mundo se modernizou e você não. Continuou com aquele velho modelo de gestão, aquela politicagem. Os “grand´omens” não quiseram te profissionalizar. É difícil aceitar isso, mas o tempo passa. Os miúdos de hoje não querem mais ouvir a Amália Rodrigues. Eles preferem Xutos & Pontapés.

Nos últimos anos você já tinha mais aquela mesma força do passado. Aliás, torcer para você é, de alguma forma, sentir saudade de times que você nunca viu jogar, seja o campeão paulista em 1973 ou o esquadrão da década de 1950, que conquistou dois Rio-São Paulo (quando ele era o principal torneio do país) e a Tri Fita Azul. Saudade, uma palavra que só existe em nosso idioma e que talvez tenha como morada o Canindé…

Foto: Leonardo Lourenço/GloboEsporte.com
Torcida da Lusa acompanha o jogo diante do Tombense, que rebaixou a Lusa (Foto: Leonardo Lourenço/GloboEsporte.com)

Mesmo assim até que tivemos bons momentos. E a Barcelusa? Na segunda divisão você conseguiu encantar a todos com um bom futebol. Pensei que ali teríamos uma nova era. E isso só foi há cinco anos.

De lá para cá tanta coisa aconteceu. Começando por aquele “caso Héverton”. Nem gosto de lembrar disso. Me recordo que o promotor Roberto Senise (aliás, você tem notícias dele?) disse que não foi erro administrativo.

Alguém, seja funcionário ou dirigente, te sabotou. E a lógica é simples, se vendeu é porque alguém comprou, não é ? Você é vítima nessa história. A única vítima, por sinal. Todos os outros estão aí, tocando sua vida, jogando a Série A…

Mas não é desculpa para explicar o que está acontecendo. Você poderia muito bem ter jogado a Série B e voltado na bola. Mas, para variar, foi mal administrada. O Ilídio Lico, que assumiu a presidência porque fez um acordo com o grupo do Da Lupa, te fez sair dos trilhos. Te derrubou no Paulista e para a Série C do Brasileiro.

Ele pediu as contas em 2015, assumiu outro presidente, que também deixou o cargo um ano depois, e quem assumiu? O mesmo grupo político do Lico, dessa vez liderado pelo José Luiz. Como isso aconteceu? Parece que voltaram para terminar o serviço. Te derrubaram novamente, dessa vez para a quarta divisão!

Sinceramente, passa um filme na cabeça. Dá medo do que pode acontecer no futuro. Ainda tem esse leilão do terreno pela frente. Se não conseguirem adiar ou encontrar uma construtora para ser parceira e bancar o negócio, você pode ficar sem casa a partir de novembro.

Lusa, você tem solução. É difícil, há um longo caminho pela frente e é preciso ter gente séria cuidando de você. Mas você não morreu. Tá doente, tá na UTI, mas tem jeito.

É preciso encontrar alguém que queira ser parceiro e te ajude a salvar o terreno. Com esse dinheiro você negocia as dívidas. Não precisa vender o Canindé. Vira sócia de uma construtora ou dá a concessão do terreno por alguns anos. Com essa receita fixa você administra o clube e arruma a casa.

Abre mão do clube social. É chato, eu sei. Mas vai o anel e fica o dedo. Deixa até derrubarem o estádio, mas tem que construir outro, viu ? Já imaginou a gente com um estádio novinho em folha? Pode até ser desses modernos, mas deixa um espaço para eu e uma parte do pessoal assistir ao jogo em pé, como de costume.

Falando em jogo, agora só em 2017, hein? Acabou o ano para você. E que ano… Bem que esse pessoal da diretoria poderia antecipar as eleições. Para que esperar até dezembro? Deixa um pessoal novo entrar e tentar arrumar as coisas. Com eles não deu certo mesmo…

Bom, acho que é isso. Tem muita gente chateada com o que aconteceu. Mas fica tranquila, o pessoal não vai te abandonar, não. Somos poucos, mas estaremos lá quando a próxima temporada começar.

Enquanto houver uma camisa verde-encarnada em campo, haverá esperança…

Por Elcio Mendonça, para o Doentes por Futebol

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