Foto: Leonardo Lourenço/GloboEsporte.com

A última divisão do futebol brasileiro. As horas passam e parece que se torna cada vez mais difícil resumir o sentimento que toma conta de nós. O coração apertado, o nó na garganta e aquela sensação de impotência quase nos paralisam. O rebaixamento da Lusa à Série D não veio apenas na derrota para o Tombense por 2 a 0 neste domingo (18). Ele foi minuciosamente costurado ao longo de 18 tortuosas rodadas. Não deveria ser uma surpresa, mas foi. Por mais que a razão nos alertasse que a queda era inevitável, o coração insistia em resistir.

VOCÊ JÁ VIU?
O que a história dirá de nós afinal?

Eu mesmo alertei por muito tempo que a quarta divisão era caminho certo. No entanto, nunca quis acreditar de verdade. Ou melhor, jamais consegui imaginar a Portuguesa nesse patamar. Assim como sempre nos recusamos a crer realmente que o fim estava próximo. Escrevi isso quando caímos nos tribunais em 2013, quando fomos rebaixados à Série C em 2014 e quando sucumbimos novamente à Série A2 em 2015. A paixão, porém, falava mais alto. Haveria de existir uma solução, uma salvação, um milagre que jamais esqueceríamos.


A realidade bateu forte. Mas foi estranho. Tanto a derrota no interior mineiro quanto o placar favorável em solo carioca não espantaram. Os olhos assistiram a tudo isso atônitos, como se já soubessem em detalhes o que aconteceria. Acompanhei o apito final, a fala do treinador e a saída dos jogadores do gramado ainda anestesiado. Desligar a televisão não bastou. O peso da quarta divisão despencou sobre mim apenas quando tentei dormir. Aquele filme que dizem passar pela nossa cabeça quando o fim está próximo surgiu. Devastador.

Soube pela primeira vez o que é chorar de tristeza pela Portuguesa. Até então, mesmo com tantos motivos, isso só havia acontecido em momentos de alegria. Foram poucos, raros, mas inesquecíveis. Até o céu de São Paulo parece ter chorado a queda da Lusa, fechando logo após o fim do jogo e despencando em chuva. Cada trovão parecia um golpe ainda mais forte na tão moribunda esperança lusitana. Esses momentos certamente ficarão em nossa memória para sempre, aconteça o que acontecer. Aliás, esse é talvez o maior desespero.

Como será o amanhã? O torcedor rubro-verde será bombardeado de reportagens sobre a tragédia da Lusa nos próximos dias. Citarão o quarto rebaixamento em três anos, os quatro presidentes desde o “caso Héverton”, os mais de 150 jogadores nesse mesmo período, os cerca de 15 treinadores que passaram pelo Canindé, etc. Tudo isso precisa ser contado e escancarado, mas os lusitanos sabem de cor essa história. Ou melhor, sentem como ninguém. O real problema da Portuguesa está para frente, no futuro. No curtíssimo prazo.

A tristeza se converte em revolta a cada lembrança. O buraco para o qual a Lusa está sendo empurrada foi cavado pelos próprios dirigentes, conselheiros e “cardeais”. São décadas de um sistema totalmente ultrapassado e amador. Uma rotina de política, de vaidade e de interesse. Mais recentemente, um dia a dia de golpes e puxadas de tapete. As alamedas do Canindé ouviram muito mais conversas sobre a venda do terreno do clube do que sobre o futebol nos últimos tempos. E isso resume perfeitamente a brutal realidade que nos assombra. Como são capazes? Como?

O clube se tornou um reduto daqueles que vivem da Portuguesa, no pior sentido da palavra. Os que se escoram no Canindé pelos mais diversos motivos. Seja para se autoafirmar na vida, seja para se sentir importante, seja para mostrar que tem algum valor. Os jovens não encontram meios de entrar e mudar. São barrados por uma estrutura viciada, fechada e feita para os retrógrados. E não têm tempo e nem condições financeiras de ficar parasitando em torno da Lusa diariamente. É desesperador e desolador.

O atual presidente, José Luiz Ferreira de Almeida, acabou se mostrando pior que todos os outros. Mesmo porque foi sob a gestão dele que a Portuguesa chegou ao ponto mais fundo do poço. Zé Luiz adora dizer que conhece a Lusa mais que qualquer um. Será que conhece mesmo? Poucos devem entender tanto da política rubro-verde quanto ele, isso temos todos de admitir. No entanto, isso é entender de Lusa? Dou muito mais valor a quem viaja quilômetros para ver o time jogar, quem enfrenta um sol de rachar, quem toma chuva sem reclamar e quem resiste no alambrado mesmo sendo feito de trouxa pela diretoria. Quem, acima de tudo, respeita as nossas cores.

A agonia da Portuguesa estará escancarada na televisão, no rádio, no jornal e na internet. O real sentimento, porém, continuará guardado no coração de cada torcedor. Muitos nos dizem que sofrer tanto assim por um time não faz sentido. O problema é que não se trata só de um time. A Lusa é muito mais que isso. É aquela que resume perfeitamente em nossa memória o que é o amor, a amizade, a família e a dignidade. Ela formou nosso caráter e nós formamos a essência dela. Não somos dois. Somos um. E apenas nós sabemos o que isso tudo representa. Obrigado e desculpa, Portuguesa.

Por Luiz Nascimento, para o Blog do Torcedor

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